Os hackativistas do grupo Anonymous, que invadiram o site da Secretaria de Educação estadual de São Paulo, de Trasportes, PM e PF, prometeram mais ações similares — como forma de apoio às manifestações que ocorrem nas ruas da capital, primeiro motivadas pelo aumento da tarifa de transporte público para R$ 3,20 e que, em um desdobramento, adquiriram outros cunhos políticos.

— O hackerativismo é tão importante quanto os protestos nas ruas. Hoje tudo passa pela internet. Nosso principal objetivo é continuar incentivando a população a sair para as ruas e lutar por seus direitos. Mas ainda vamos continuar com os ataques. [...] Com a evolução da tecnologia, as ações cibernéticas e as manifestações de rua devem caminhar juntas, uma apoiando a outra.

Em entrevista ao R7, o membros do grupo que estão por trás da página Anonymous Brasil no Facebook (AnonBRNews) explicaram que a invasão à Secretaria de Educação foi feita não para tentar obter informações ilícitas ou causar prejuízo — mas sim para chamar atenção para a causa. Pois a educação é, ou ao menos deveria ser, uma questão prioritária.

— O site da Secretaria de Educação foi escolhido porque a base de tudo é a educação. E tenho vergonha de dizer, mas o Brasil está carente dessa parte, e por isso escolhemos esse site. Nosso objetivo principal não é obter informações e sim abrir os olhos do brasileiro, sobre os absurdos que estão ocorrendo em nosso País.

Hackear o bilhete único?

Perguntados se hackear o sistema eletrônico do bilhete único seria uma saída para a repressão ao movimento, os membros do Anonymous garantiram que não, não é uma alternativa. O sistema já foi adulterado uma vez e se mostrou frágil — e, para eles, manobras do tipo seriam até um tipo de protesto que atrai visibilidade, mas que não é eficiente ideologicamente.

— Não acreditamos que hackear o bilhete único seria uma solução contra o aumento do preço das passagens, porém poderia ser uma ótima ferramenta de protesto.

Quando se trata de combater algo que esteja errado, consideramos válido burlar qualquer tecnologia como forma de protesto. A “pirataria do transporte” não seria uma solução, mas sim uma forma de protesto.

“Lixeiragate”

Uma polêmica circulou entre os membros do Anonymous por conta de uma imagem, publicada por um grande portal de internet, que indicava que hackers do movimento estariam colaborando para a depredação causada durante as manifestações na Avenida Paulista, em São Paulo.

Na imagem, membros do Anonymous, portando a famosa máscara de Guy Fawkes, estavam com as mãos em uma lixeira, inclinada. A legenda da imagem dizia que eles derrubavam a lixeira — o que os revoltou. Eles se defenderam, publicando vídeos no YouTube, provando que estavam levantando as lixeiras tombadas, e não as derrubando.

— O que aconteceu com aquela foto foi um típico exemplo de manipulação de notícia. Não sabemos se foi intencional ou não, mas pelo ocorrido, ficou evidente que uma simples legenda numa foto pode manchar a reputação das pessoas ou a imagem de um movimento como um todo. Os participantes que compartilham a ideia Anonymous, de maneira geral são pacíficos, são contra atos de violência gratuita e atos de depredação. Isso não significa que, dependendo da situação, uma célula específica não possa decidir por ações mais exaltadas. Pois como já dissemos, num movimento descentralizado, cada célula decide qual a melhor maneira de se manifestar. Isso é algo que foge do controle de qualquer fonte externa, pois cada célula possui seu próprio ambiente de debate e tomam suas decisões de forma autônoma.

Os protagonistas do caso até informaram aos membros da página o que ocorreu:

— Sobre o episódio da foto da lixeira, fomos informados pela célula que participou do protesto que pessoas de um grupo não identificado decidiram depredar o patrimônio público e privado, e conforme foram passando pela via, foram realizando ações de desordem e quebradeira generalizada. Entre estas ações, eles derrubaram diversas lixeiras de cimento e algumas delas foram arremessadas na faixa de veículos. Alguns Anonymous que participavam da manifestação decidiram levantar aquelas lixeiras e retirá-las do meio da rua, por não concordarem com aqueles atos, que na verdade estavam sendo praticados por uma minoria e não por todos. Foi neste momento que um fotógrafo decidiu registrar o momento. [...] A legenda dizia que ‘o grupo Anonymous participou do ato de quebradeira derrubando as lixeiras’, quando, na verdade, foi o oposto. Por sorte eles registraram por conta própria o momento em que levantavam outras lixeiras e, após protestos na internet e apresentação do vídeo como contraprova, a legenda da foto foi alterada. Infelizmente muitas pessoas já haviam visualizado a legenda equivocada e a foto hoje circula na internet passando uma imagem distorcida.

Até a física envolvida em derrubar a pesada lixeira serviu como forma de defesa:

— O que pouca gente se deu conta é que a legenda da imagem diz que os Anonymous estão derrubando a lixeira, mas, se a pessoa tiver um pingo de senso crítico e poder de observação, chegará à óbvia conclusão de que não se derruba nada que pesa cerca de 150 kg para cima de seu próprio corpo. Se olhar a imagem com atenção, verá que a lixeira esta inclinada na direção do corpo dos dois rapazes, sendo que só poderia estar sendo erguida, uma vez que não cometeriam o ato de puxá-la para junto de seu corpo, se a ideia fosse realmente derrubá-la.