/75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_TOPO |

Daniel Schnitzer: aos 22, ele levou energia limpa ao Haiti

Por R7 08/07/2013 07h07
Daniel Schnitzer, fundador da EarthSpark - Foto: Ted.com
Realidade distante para muitos, a vida sem energia elétrica é situação comum para pelo menos 75% da população do Haiti, ilha devastada por guerras civis, ditadura e um terremoto que destruiu boa parte de seu território em 2010. É esse quadro sombrio que o americano Daniel Schnitzer está tentando mudar. Aos 27 anos, ele começa a colher os frutos de seu trabalho no país de 10 milhões de habitantes lembrado, no mundo, essencialmente por suas tragédias.

Considerado pela revista Forbes, em 2012, um dos destaques entre empreendedores jovens do setor de energia, Schnitzer viu sua vida tomar um novo rumo em 2008, quando, aos 22, trabalhava em uma consultoria de energia nos Estados Unidos. Ele contou ao site de VEJA que uma haitiana radicada em território americano encontrou seu nome na internet quando pesquisava sobre construção e geradores de redes de iluminação de rua. “Eu havia desenvolvido, na faculdade, estudos sobre energia. Me interesso pelo assunto desde os 12 anos. E ela me convidou para desenvolver um desses geradores no Haiti. Foi aí que comecei a me envolver com o país”, lembra. Seus estudos são focados na pesquisa de soluções para aumentar a utilização de energias renováveis nos EUA.

pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_02
Cerca de 10% da renda das famílias haitianas é destinada à energia - proporção vinte vezes maior que nos Estados Unidos. “No Haiti a população gasta 100 dólares por mês, em média, só para comprar lâmpadas de querosene, dado que se tivessem uma rede elétrica gastariam apenas 2 dólares”, contou o empresário que é formado em Física, Economia e Estudos Ambientais pela Universidade de Chicago, e hoje é aluno de PhD no departamento de Engenharia e Políticas Públicas da Carnegie Mellon University.

Visionário - Muito mais do que fonte de renda, a energia é para Schnitzer uma missão social. Partindo do princípio de que a eletricidade deve ser acessível, confiável e não poluente, sua empresa, EarthSpark International, visa essencialmente garantir o acesso da população à energia, especialmente de fontes sustentáveis. Com ela, o jovem empreendedor não quer, por enquanto, ter lucro - seu faturamento no ano passado chegou a 100 mil dólares, valor suficiente para cobrir despesas e remunerar os funcionários.

Grande parte de seu negócio ocorre no varejo. Uma rede de vendedores compram os produtos da EarthSpark, da marca Enèji Pwòp, e revendem aos haitianos de comunidades que ainda não têm acesso à rede elétrica tradicional. Essas mercadorias, tais como lâmpadas de LED, carregadores de celular e fogões, funcionam com energia solar. “No Haiti, quase 40% da população tem celular, mas a maioria paga muito caro para carregar o aparelho em estabelecimentos que têm energia”, conta Schnitzer, que mora nos EUA, mas passa quase metade do ano no Haiti. Os produtos são testados e certificados também pela International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial focado em desenvolver o setor privado de países emergentes, pelo Departamento de Energia americano e por universidades também dos Estados Unidos.

pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_03
A empresa, porém, vai além da simples venda de produtos: também oferece financiamento, treinamento, assistência de marketing e planejamento de negócios para seus vendedores expandirem e manterem sua rede de clientes, gerando, dessa forma, novos empregos. “Queremos envolver mais os haitianos no trabalho do varejo. Talvez, no ano que vem, mudaremos a base da empresa para o Haiti - hoje é nos EUA”, disse ao site de VEJA. A EarthSpark espera fechar o ano com 100 vendedores no país ante 75 no fim do ano passado e 25 em 2011.

Empreendedorismo social - A segunda linha de negócios da empresa foi desenvolvida na cidade de Les Anglais em 2008, ano em que ele teve seu primeiro contato com a realidade haitiana e fundou a EarthSpark. Depois de constatar que a pouca rede elétrica que havia custava caro e era ineficiente, a EarthSpark começou, em parceria com o governo haitiano, autoridades locais e o Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), um projeto-piloto na pequena cidade ao sul do país.

Em novembro de 2012, a comunidade ganhou uma micro-rede de energia com uma antena alimentada por um gerador a diesel, usando o excedente energético da empresa local de celulares Digicel. Ao contrário do sistema brasileiro, a cobrança pelo uso do serviço é feita por um sistema pré-pago: assim como na telefonia celular, uma família contrata créditos. Se precisar de mais eletricidade do que a contratada, ela pode comprar mais créditos em casas autorizadas. A expectativa é de que o modelo seja replicado em outras pequenas cidades nos próximos anos e que a maior parte da energia usada seja solar.

pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_04
Por fim, a EarthSpark ainda se reúne com outras organizações nacionais e internacionais para trocar experiências e levar propostas de melhorias da rede elétrica para o governo. “Discutimos com governantes boas políticas para ajudar mais haitianos a ter acesso a energias sustentáveis. Já ajudamos no desenvolvimento de um programa chamado de ‘Give me light, give me life’ (Dê-me luz, Dê-me vida, em tradução livre) que leva postes de luz e pequenas lâmpadas para comunidades rurais. Eles são muito abertos para ouvir novas ideias”, conta Schnitzer.

O trabalho do jovem americano foi reconhecido e este ano a ONU renovou o contrato com sua empresa dentro de seu Programa Ambiental – a inserção da EarthSpark no projeto aconteceu em 2011, depois de ela ter passado por um processo de seis meses de due dilligence, quando precisou abrir todos os seus planos de negócio, orçamento e finanças. “É muito importante esse tipo de reconhecimento porque mostra para as pessoas a seriedade do trabalho”, diz o empreendedor. Em 2010, ele também já havia ganhado um prêmio de honra da Clinton Global Initiative, fundação direcionada para a promoção de trabalhos inovadores do ex-presidente americano Bill Clinton.

pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_05
“O empreendedorismo social, um fenômeno no mundo, é uma ótima maneira de um jovem começar sua carreira. Há muitos jovens como eu que fazem algo não apenas pelo dinheiro, mas também porque é bom naquilo ou porque aquilo muda a vida das pessoas.” Schnitzer usou recursos próprios para começar a empresa e depois angariou fundos de empresas e entidades que acreditam em seu trabalho. Mas, segundo ele, conseguir dinheiro é apenas o começo de um árduo caminho em busca da concretização de um sonho.