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Se estivesse vivo, Renato Russo seria escritor e comporia ópera, diz mãe
Símbolo de rebeldia da “geração coca-cola” e um dos vértices da emergente cena da cultura jovem no país dos anos 1980, Renato Russo, líder da Legião Urbana, completaria 54 anos nesta quinta-feira (27), mas estaria distante do rock, na opinião de familiares e amigos do cantor. Hoje, ele estaria escrevendo livros, peças de teatro, dirigindo e fazendo roteiros para filmes, compondo óperas e desenvolvendo trabalhos sociais com crianças, dizem.
Em sentido horário, a partir da foto da esquerda, acima: Renato Russo ao lado da irmã, Carmem, junto com os pais e a irmã, em um acampamanto (deitado no chão) e ao lado da amiga Leo Coimbra, a Mônica, que virou canção (Foto: Carmem Teresa Manfredini/Acervo pessoal e Mila Petrillo/Divulgação)
A mãe de Renato, Carminha Manfredini, disse ao G1 que o filho tinha um plano. Depois de cinco décadas de vida, ele iria se afastar do barulhento mundo do rock para se aventurar por outras linguagens. Renato Russo morreu em 1996, aos 36 anos, em decorrência de complicações causadas pela Aids.
“Ele disse para mim: ‘Mãe, a partir de 50 anos eu vou parar com rock, com isso tudo, e vou escrever’. Ele tinha ideia de fazer peças teatrais. Junto com amigos, estava pensando em fazer uma ópera. Hoje, nessa época, eu tenho certeza que ele estaria no cantinho dele escrevendo, compondo, criando essas coisas todas”, afirma.
A irmã do artista, Carmem Teresa Manfredini, também diz acreditar que o irmão estivesse escrevendo roteiros para cinema, peças de teatro e óperas. “Ele pensava em filmes. Provavelmente não estaria mais na Legião. Eu acho que ele também faria uma creche para crianças carentes. Ele era professor, tinha essa preocupação com a educação, com a área social”, diz.
'Turma da Colina'
Citado por amigos e familiares como uma das figuras mais presentes na vida de Renato Russo na era pré-estrelato, o diretor de TV José Renato Martins afirma que o artista pensava em fazer cinema desde cedo e que tinha planos para as primeiras produções.
“Acredito acima de tudo que ele estaria dirigindo filmes. Eu nunca me esqueço. Há uma música do Beto Guedes, que se chama ‘Nascente’. Essa música, ele me disse que usaria num filme que ele faria, em que o cara se suicidaria no fim e tocaria essa música.”
Membro da “Turma da Colina”, que se reunia no conjunto habitacional dentro da Universidade de Brasília (UnB) no fim dos anos 1970 – e que representou a gênese de bandas como Aborto Elétrico, Blitz 64, Capital Inicial e indiretamente da própria Legião Urbana –, Martins diz que o Renato Russo de 54 anos também seria uma versão moderna de um “pai de família”.
O baterista do Capital Inicial, Fê Lemos, ao lado da bateria dos tempos de Aborto Elétrico (Foto: Lucas Nanini/G1)
“O Renato hoje, além de provavelmente estar casado com um cara com a metade da idade dele, ou menos, eu acredito que ele estaria com vários filhos adotados, que ele celebraria esse casamento gay [em vigor desde 2011].”
Na Colina, Martins e Renato conviveram com Fê Lemos, hoje baterista do Capital Inicial. Ele e o irmão Flávio, baixista da banda, moravam na casa onde aconteciam os ensaios do Aborto Elétrico. O quarto onde o grupo ensaiava hoje funciona como um depósito com móveis, bicicleta, ferramentas e equipamentos de som antigos.
Fê Lemos é apontado como o responsável pelo começo do fim do Aborto Elétrico, por ter atirado uma baqueta na direção de Renato durante um show. Para ele, o “trovador solitário” hoje estaria explorando sonoridades da cultura celta, fazendo um tipo de música menos eletrificada.
“Pelo que você vê da evolução da obra da Legião Urbana, talvez ele estivesse bem folk. Não sei se ele estaria fazendo um som pesado. O Renato gostava muito de folk music. Então pode ser que ele estivesse por um caminho tipo Fleet Foxes [banda norte-americana de ‘indie folk’]”, diz.
“Ele era um sujeito que deixava muito o Dado e o Bonfá trazerem as suas composições para dentro da banda. Então ia depender muito do que o Dado e o Bonfá estivessem fazendo. Mas eu acredito que o Renato estaria envolvido com uma sonoridade, um ‘neo-acústico’ ou um ‘neo-folk’, como eles falam”, afirma Lemos.
Sobre o lado escritor, o baterista diz ser difícil definir o que poderia acontecer, mas acredita que o compositor iria “mais fundo, explorando as contradições da alma humana”. Ele continuaria a fazer críticas políticas, mas não como temática central nas obras. “Eu acho que um artista não gosta de uma camisa de força. Ele é levado para onde os ventos da inspiração sopram.”
O vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, diz que o rock brasileiro nunca teria a dimensão que tomou se não fosse Renato Russo. Prova disso é a execução maciça de músicas como “Que país é este” nas manifestações de junho do ano passado. “Eu acho que ele teria achado o máximo. Estarem cantando músicas dele, mas principalmente por ver uma multidão como aquela na rua”, afirma.
O diretor de TV José Renato Martins, amigo de infância de
Renato Russo: hoje cantor estaria casado com alguém com
a metade da idade dele e teria adotado vários filhos, diz
(Foto: Lucas Nanini/G1)
Para o cantor, o ex-líder da Legião poderia seguir por um caminho menos erudito. “No final da vida ele andava bastante envolvido com projetos de apelo popular, como o disco da Laura Pausini. Eu arrisco dizer que ele teria ido por aí, se tornando mais ‘povão’ e menos intelectualizado, se tornando mais amado ainda”, diz. Dinho ressalta, porém, que não dava para saber os passos do artista. “Parte de sua genialidade vinha justamente da imprevisibilidade.”
A Mônica do Eduardo
Renato Russo costumava usar histórias de sua turma como inspiração para canções. Uma das mais conhecidas é sobre um casal que se encontra no Parque da Cidade, “ela de moto e ele de camelo” – gíria para bicicleta em Brasília. “Eduardo e Mônica” fez sucesso depois de ter sido gravada no disco “Dois”, em 1986.
A Mônica da música na verdade se chama Leonice de Araujo Coimbra, ou simplesmente Leo Coimbra. A artista plástica também diz achar que o compositor estaria escrevendo teatro e óperas. “E provavelmente envolvido em causas sociais, com crianças. Eu acho que ele estaria mais careca, com uma barriguinha proeminente, óculos com aros grossos.”
A artista plástica diz que o lado contestador de Renato estaria presente em suas obras. “Ele tornaria públicas coisas sobre a sua insatisfação, o olhar crítico. Eu acho que ele estaria botando a boca no trombone”, diz.
O artista
Renato Manfredini Júnior nasceu no Rio de Janeiro, morou nos Estados Unidos e veio para a capital federal em 1973. Anos mais tarde, fez parte da “Turma da Colina”, devorou livros e discos e forjou a personalidade do “trovador solitário”, controverso e senhor de cada ato que moldou a cena musical do Distrito Federal e de parte importante do rock nacional.
Na Colina, tomou para si o “faça você mesmo” do punk, se juntou a uns colegas e montou o Aborto Elétrico. No repertório da banda estavam composições como “Que país é este” e “Conexão amazônica”, que depois seriam gravadas pela Legião, e “Veraneio vascaína”, registrada em disco posteriormente pelo Capital.
Ao longo de 11 anos desde a gravação do primeiro disco, em 1985, ele e a Legião Urbana gravaram sete álbuns de estúdio. Em 1997, foi lançado o disco “Uma outra estação”, com sobras de estúdio de “A Tempestade ou o livro dos dias”, último trabalho gravado pelo artista.
Renato também gravou os álbuns solo “The stonewall celebration concert”, em 1994, “Equilíbrio Distante”, em 1995, e “O Último Solo”, lançado em 1997. Em 2008, a partir de uma fita entregue por José Renato Martins à irmã do compositor, foi lançado o trabalho “Trovador solitário”, com as primeiras gravações de “Eduardo e Mônica”, “Que país é este” e “Faroeste caboclo”.
A mãe de Renato, Carminha Manfredini, disse ao G1 que o filho tinha um plano. Depois de cinco décadas de vida, ele iria se afastar do barulhento mundo do rock para se aventurar por outras linguagens. Renato Russo morreu em 1996, aos 36 anos, em decorrência de complicações causadas pela Aids.
“Ele disse para mim: ‘Mãe, a partir de 50 anos eu vou parar com rock, com isso tudo, e vou escrever’. Ele tinha ideia de fazer peças teatrais. Junto com amigos, estava pensando em fazer uma ópera. Hoje, nessa época, eu tenho certeza que ele estaria no cantinho dele escrevendo, compondo, criando essas coisas todas”, afirma.
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'Turma da Colina'
Citado por amigos e familiares como uma das figuras mais presentes na vida de Renato Russo na era pré-estrelato, o diretor de TV José Renato Martins afirma que o artista pensava em fazer cinema desde cedo e que tinha planos para as primeiras produções.
“Acredito acima de tudo que ele estaria dirigindo filmes. Eu nunca me esqueço. Há uma música do Beto Guedes, que se chama ‘Nascente’. Essa música, ele me disse que usaria num filme que ele faria, em que o cara se suicidaria no fim e tocaria essa música.”
Membro da “Turma da Colina”, que se reunia no conjunto habitacional dentro da Universidade de Brasília (UnB) no fim dos anos 1970 – e que representou a gênese de bandas como Aborto Elétrico, Blitz 64, Capital Inicial e indiretamente da própria Legião Urbana –, Martins diz que o Renato Russo de 54 anos também seria uma versão moderna de um “pai de família”.
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“O Renato hoje, além de provavelmente estar casado com um cara com a metade da idade dele, ou menos, eu acredito que ele estaria com vários filhos adotados, que ele celebraria esse casamento gay [em vigor desde 2011].”
Na Colina, Martins e Renato conviveram com Fê Lemos, hoje baterista do Capital Inicial. Ele e o irmão Flávio, baixista da banda, moravam na casa onde aconteciam os ensaios do Aborto Elétrico. O quarto onde o grupo ensaiava hoje funciona como um depósito com móveis, bicicleta, ferramentas e equipamentos de som antigos.
Fê Lemos é apontado como o responsável pelo começo do fim do Aborto Elétrico, por ter atirado uma baqueta na direção de Renato durante um show. Para ele, o “trovador solitário” hoje estaria explorando sonoridades da cultura celta, fazendo um tipo de música menos eletrificada.
“Pelo que você vê da evolução da obra da Legião Urbana, talvez ele estivesse bem folk. Não sei se ele estaria fazendo um som pesado. O Renato gostava muito de folk music. Então pode ser que ele estivesse por um caminho tipo Fleet Foxes [banda norte-americana de ‘indie folk’]”, diz.
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Sobre o lado escritor, o baterista diz ser difícil definir o que poderia acontecer, mas acredita que o compositor iria “mais fundo, explorando as contradições da alma humana”. Ele continuaria a fazer críticas políticas, mas não como temática central nas obras. “Eu acho que um artista não gosta de uma camisa de força. Ele é levado para onde os ventos da inspiração sopram.”
O vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, diz que o rock brasileiro nunca teria a dimensão que tomou se não fosse Renato Russo. Prova disso é a execução maciça de músicas como “Que país é este” nas manifestações de junho do ano passado. “Eu acho que ele teria achado o máximo. Estarem cantando músicas dele, mas principalmente por ver uma multidão como aquela na rua”, afirma.
O diretor de TV José Renato Martins, amigo de infância de
Renato Russo: hoje cantor estaria casado com alguém com
a metade da idade dele e teria adotado vários filhos, diz
(Foto: Lucas Nanini/G1)
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A Mônica do Eduardo
Renato Russo costumava usar histórias de sua turma como inspiração para canções. Uma das mais conhecidas é sobre um casal que se encontra no Parque da Cidade, “ela de moto e ele de camelo” – gíria para bicicleta em Brasília. “Eduardo e Mônica” fez sucesso depois de ter sido gravada no disco “Dois”, em 1986.
A Mônica da música na verdade se chama Leonice de Araujo Coimbra, ou simplesmente Leo Coimbra. A artista plástica também diz achar que o compositor estaria escrevendo teatro e óperas. “E provavelmente envolvido em causas sociais, com crianças. Eu acho que ele estaria mais careca, com uma barriguinha proeminente, óculos com aros grossos.”
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O artista
Renato Manfredini Júnior nasceu no Rio de Janeiro, morou nos Estados Unidos e veio para a capital federal em 1973. Anos mais tarde, fez parte da “Turma da Colina”, devorou livros e discos e forjou a personalidade do “trovador solitário”, controverso e senhor de cada ato que moldou a cena musical do Distrito Federal e de parte importante do rock nacional.
Na Colina, tomou para si o “faça você mesmo” do punk, se juntou a uns colegas e montou o Aborto Elétrico. No repertório da banda estavam composições como “Que país é este” e “Conexão amazônica”, que depois seriam gravadas pela Legião, e “Veraneio vascaína”, registrada em disco posteriormente pelo Capital.
Ao longo de 11 anos desde a gravação do primeiro disco, em 1985, ele e a Legião Urbana gravaram sete álbuns de estúdio. Em 1997, foi lançado o disco “Uma outra estação”, com sobras de estúdio de “A Tempestade ou o livro dos dias”, último trabalho gravado pelo artista.
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