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Brasil é foguete amarrado ao chão, diz jornalista da Economist

Por Redação com Congresso em Foco 18/05/2014 10h10
Helen: “Há muitas jabuticabas no Brasil, coisas que só o Brasil faz. Se pararem de fazer essas coisa - Foto: Arquivo pessoal
Com pós-doutorado em Matemática, a jornalista irlandesa Helen Joyce fez um curso de imersão na realidade brasileira durante os três anos e meio em que viveu no país, chefiando o escritório de uma das publicações mais influentes do planeta, a revista inglesa The Economist. Baseada em São Paulo, cruzou o país várias vezes e decifrou mais que números.

Passou da condição de quem sabia apenas três coisas primárias sobre o Brasil – “ficava na América do Sul, tinha praias e as pessoas falavam português” – para se tornar uma analista respeitada, e por vezes incômoda para o governo, da economia nacional. 

Em setembro do ano passado, a jornalista escreveu uma reportagem de 14 páginas sobre a situação da economia brasileira que irritou a presidenta Dilma Rousseff. A capa da edição da revista Economist trazia a imagem do Cristo Redentor como se fosse um foguete em queda. E deixava no ar uma pergunta sugestiva: será que o Brasil estragou tudo?

O texto concluía que o eleitor brasileiro não tinha muitos motivos para dar a Dilma um novo mandato e apontava os equívocos que, segundo a revista, a petista tinha cometido nos seus primeiros três anos de mandato na condução da economia, como excesso de intervenção no mercado, falta de reformas estruturantes e inchaço da máquina pública. “Eles estão desinformados. O dólar estabilizou, a inflação está sob controle e somos o único grande país com pleno emprego”, rebateu uma contrariada Dilma, pelo Twitter.

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“Mas em que ponto estamos desinformados? Ela não apontou”, contesta Helen, alegando que jamais se colocou em dúvida um dado sequer publicado pela revista.

Exageros

A capa de 2013 fazia alusão a outra dedicada pela Economist ao país, em 2009, que mostrava o mesmo Cristo Redentor como um foguete, sob o título “O Brasil decola”, embalado pelo crescimento que alcançaria expressivos 7,5% no ano seguinte. Helen, que não participou da primeira reportagem nem da discussão das duas capas, diz que os brasileiros exageraram na interpretação que fizeram das duas edições.

“Mostramos que estava decolando, não que estava chegando. Os brasileiros exageraram no entendimento do que escrevemos. Ao longo dos anos, escrevemos várias coisas positivas e negativas, equilibradas, sobre o Brasil. Mas os brasileiros só ouviram, em 2010, as coisas positivas. E agora, em 2013, só as negativas”, afirma Helen Joyce.

Para ela, a imagem mais fiel ao país é a de um foguete, tentando decolar, mas preso ao chão por uma série de amarras, como os pesados sistemas tributário e previdenciário, a intrincada legislação trabalhista, os baixos níveis de educação e, sobretudo, a “absurda” burocracia. “Há muitas jabuticabas no Brasil, coisas que só o Brasil faz. Se pararem de fazer essas coisas, vocês decolam. É uma frustração ver o Brasil com tanto potencial complicar tudo”, lamenta.

Brasis

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No final de dezembro, a jornalista, de 45 anos, voltou a Londres para editar uma seção de assuntos internacionais da revista. Levou uma bagagem repleta de impressões inquietantes sobre os “muitos Brasis” que conheceu. Um país que encantou a irlandesa pelo potencial de seus recursos naturais e pela receptividade com que abraça o estrangeiro. Mas que também a desapontou pelas oportunidades de crescimento desperdiçadas, pelo excesso de burocracia, pela incapacidade de enfrentar questões como o gigantismo dos gastos previdenciários, pela passividade de seu povo e pela forma preconceituosa com que os brasileiros tratam os próprios brasileiros.



“O melhor lugar do mundo para qualquer correspondente internacional trabalhar”, na avaliação da jornalista, é também um país cujos cidadãos têm pouco conhecimento de sua própria realidade. “Tem pessoas que acham que são pobres com salário de R$ 10 mil. É uma coisa absurda”, espanta-se.

“Os brasileiros não têm preconceito com estrangeiros, mas com outros brasileiros, que eles chamam de preguiçosos. Você ouve muito essa palavra em São Paulo, por exemplo, em relação às pessoas de regiões mais pobres que eles nunca visitaram. Eles não têm conhecimento do que estão falando”, observa Helen, que foi substituída no Brasil pelo seu colega Jan Piotrowski na incumbência de acompanhar os rumos da nação.

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Tropeçar com a desigualdade social nas ruas foi o que mais chocou Helen ao desembarcar no Brasil em julho de 2010, acompanhada do marido inglês e dos dois filhos do casal, hoje com sete e 12 anos. Com o tempo, a irlandesa diz que se acostumou a conviver com os contrastes sociais no país. Mas não a ponto de perder a capacidade de se indignar, principalmente com a passividade do brasileiro em geral.

“Os brasileiros não querem dizer não. Não querem o confronto, o conflito. Mas quando uma coisa está ruim, você tem de dizer que está ruim”, diz a jornalista, ao comentar a onda de manifestações de 2013. “O país seria melhor se os brasileiros começassem a reclamar em voz alta de tudo. É uma mudança”, acredita.