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Cerca de 90% das famílias alagoanas recusam doação de órgãos de parentes com morte cerebral

Por Redação com Assessoria 27/09/2014 08h08
Foto: Assessoria
“Faço hemodiálise três vezes por semana, desde que tinha 10 anos, quando descobri uma insuficiência renal crônica. É um sofrimento muito grande, mas o sonho de conseguir um novo rim me faz levantar todos os dias para encarar a luta do tratamento”. O relato dramático é da estudante Jessemary Diniz, 19 anos, que assim como outros 311 alagoanos, permanecem na fila de espera por um transplante de órgãos, segundo dados da Central de Transplantes de Alagoas.

E para estimular os alagoanos a se declararem doadores em potencial, além de autorizarem a doação dos órgãos de um familiar com morte cerebral, a Central de Transplantes de Alagoas promove uma campanha de conscientização para marcar o Dia Nacional da Doação de Órgãos, que é celebrado neste sábado (27). Isso porque, ainda de acordo com dados fornecidos pelo órgão, cerca de 90% das famílias de pacientes com morte cerebral não autorizam a doação dos órgãos.

Uma realidade que contribui para o aumento da fila de espera por um doador compatível e prolonga o tratamento daqueles que estão esperando por um órgão, como está ocorrendo com Jessemary Diniz, que tenta levar uma vida normal, mas está com os estudos atrasados. Em função do tratamento rigoroso ao qual é submetida, aos 19 anos a estudante ainda está cursando o 9º ano do Ensino Fundamental, quando já deveria ter concluído o Ensino Médio, segundo prevê o Ministério da Educação.

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“Fico um pouco constrangida porque ainda não conclui meus estudos. O problema é que, devido ao tratamento, para o qual tenho que me medicar três dias por semana, acabei me atrasando. Se já tivesse conseguido um doador compatível e realizado o transplante, com certeza já teria concluído meus estudos e estaria na faculdade”, salienta a estudante, que ao ser perguntada sobre o seu maior sonho, é enfática ao afirmar: “desejo um novo rim para deixar de sofrer”.

Vida Nova

E assim como Jessemary Diniz, que espera por um rim há nove anos, o corretor de seguros, Eriberto Pinheiro, 47 anos, também passou por quase uma década para conseguir um doador compatível. Depois de descobrir que era portador da insuficiência renal crônica aos 21 anos, ele passou pelo processo de hemodiálise durante nove anos, até receber um novo rim de um jovem de 22, que morreu vítima de um acidente automobilístico.

“Quando detectei o problema, comecei a me revoltar e me perguntava o porquê da doença. Ao chegar ao médico, um dos meus rins estava atrofiado e outro funcionava com apenas 3% da sua capacidade total. Para um jovem com pouco mais de 21 anos é uma sentença de morte, mas não tinha outra alternativa e encarei a hemodiálise, torcendo sempre para encontrar um doador. Por isso, não entendo como alguém enterra os órgãos de um parente que morreu, enquanto centenas de pessoas podem ter uma vida nova por meio do transplante”, questiona o corretor de seguros.

Novo Transplante

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Se para a maioria daqueles que precisam de um transplante, encontrar um órgão compatível é como ganhar na loteria, Eriberto Pinheiro pode se considerar duplamente sortudo. Cinco anos após ter passado pelo transplante, o rim recebido apresentou novo problema, levando-o a submeter-se novamente ao processo de hemodiálise e o colocando na fila de espera para obter outro rim.

“Depois de um grande sofrimento, voltei a apresentar o mesmo problema e, em 2004, tive que voltar à hemodiálise. Fiquei por mais oito anos realizando o tratamento. No final de 2012, uma das minhas irmãs decidiu doar um dos seus rins. Realizei o procedimento, tive complicações e fiquei 107 dias internado, mas me restabeleci e mudei completamente meu estilo de vida, abolindo totalmente o sal, que é um dos causadores da insuficiência renal crônica”, alerta Eriberto Pinheiro.

Foi com base em depoimentos como o da estudante Jessemary e do corretor de seguros Eriberto Pinheiro, que o encarregado de obras, Cristiano Gomes, resolveu doar as córneas do pai, o vigilante Aguinaldo Claudino da Silva, 59 anos. Mesmo em meio à dor de perdê-lo, ele autorizou o transplante, para que as córneas do pai pudessem mostrar as maravilhas do mundo a quem só conseguia enxergar a escuridão.

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“Sempre ouvi falar de doação de órgãos, mas sempre fui contra e tive medo. Pensava que alguém pudesse fazer algo comigo ou com algum parente para transplantar os órgãos. Quando vi meu pai morrer, depois de uma simples queda, eu percebi que ele ainda poderia ajudar outra pessoa. Então, deixei de lado o egoísmo e autorizei a doação das córneas, com a certeza que alguém está vendo as maravilhas do mundo que o meu pai tanto amava”, destacou Cristino Gomes, em meio a muita emoção.

Quase 100 transplantes
Graças a decisões como a do encarregado de obras Cristiano Gomes, já foram realizados 91 transplantes de órgãos até a primeira quinzena de setembro. Desse total, 64 foram de córnea, 24 de rim e três de coração. Número que é superior a todos os transplantes realizados em 2013, quando foram contabilizados 73, sendo 52 de córnea e 21 de rim. Mas, segundo a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Kelly Brandão, o número de doações ainda precisa aumentar em Alagoas para atender toda a demanda reprimida.

“Como temos 225 pessoas esperando por um rim e 86 por um transplante de córnea, é necessário disseminar a importância da doação de órgãos. É importante entender que centenas de pessoas dependem da solidariedade para receber um transplante de órgãos, que lhes dará a possibilidade de voltar a ter uma vida normal, assim como acontece com o Eriberto Pinheiro, que se libertou da hemodiálise após ser submetido a dois transplantes”, argumenta Kelly Brandão.

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Ela informa que, para ser um doador de órgãos em potencial, é necessário comunicar o desejo aos familiares e amigos, já que serão eles os responsáveis por autorizar o procedimento. “Apenas com a confirmação de morte encefálica, conhecida como cerebral, os familiares serão procurados para autorizarem a doação, que se dará apenas com a assinatura de um documento. A partir daí, será analisado quais os órgãos poderão ser doados e serão realizados testes de compatibilidade com os pacientes que serão os receptores”, esclarece a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas.

Como estratégia para aumentar o número de doações de órgãos no Estado, a Central de Transplantes de Alagoas realiza o II Simpósio Alagoano de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante. O evento, que irá ocorrer neste sábado (27), a partir das 8 horas, no Hotel Jatiúca, em Maceió, será iniciado com uma palestra proferida por Kelly Brandão, que irá abordar a Política de Transplantes no Brasil e em Alagoas.