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Um desabafo de um introvertido

Por MHM 11/10/2014 09h09
Foto: MHM
Pessoas introvertidas costumam ser julgadas logo de cara. Quando alguém vê outra mais quieta, concentrada, logo a rotula como antissocial, séria ou metida.

É fato que a sociedade valoriza muito mais o “se mostrar e o falar o tempo todo”. Certo. Sem problemas. Mas alguns pré-julgamentos realmente me incomodam. Um especificamente: aquele que classifica a introversão como um fator limitante, algo que impede quem tem essa característica de fazer algo.

Me perguntaram certa vez: “Você vai fazer jornalismo? Mas você é tão quietinho”. Onde está escrito que cada profissão exige determinada personalidade? Não conheço esse manual. Mas quase absorvi essa ideia.

Cheguei a achar que eu tinha algum problema de saúde ou mental e a amaldiçoar meu temperamento. Afinal, eu era diferente. Não queria ser sempre o centro das atenções, algo que parecia que todos à minha volta desejavam.

Durante uma conversa animada, um dia desses, surgiu o assunto “mulheres”. Um colega comentou que eu era pegador, que “passava o rodo geral”. Claramente a afirmação foi em tom irônico. Imagine, eu, um introvertido, sair com alguém?! Minha introversão, mesmo não sendo dito abertamente, foi colocada como fator limitante para que eu conquistasse uma ou mais mulheres.

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Eu tenho uma revelação a fazer: homens com a personalidade introvertida também têm pau, sentem tesão (muito) e, o mais incrível, fazem sexo. É sério.

Esse colega talvez tenha tido uma vida sexual menos intensa que a minha. Mas, em uma brincadeira de adivinhação em que fossemos os dois postos lado a lado e perguntassem a um (a) desconhecido (a) qual ele (a) achava que teve mais conquistas afetivas ou sexuais? Tenho certeza que eu perderia a disputa.

Quase achei que introversão fosse um problema. Quando entendi melhor o que isso significa e conheci o meu próprio funcionamento, tive outra visão. Quando enfrento situações em que preciso me expor, como participar de uma reunião ou abordar uma mulher, não penso muito no que vai acontecer. Apenas faço.

Quando estiver falando, não tem mais volta. Aí é relaxar e deixar rolar. São “dribles” possíveis de aplicar em você mesmo para que nada te impeça de fazer o que quer. Cada um descobre os próprios truques para se dar bem.

Ser alguém introvertido significa que vou precisar de mais esforço para fazer certas coisas, mas não me limita. Pelo contrário, vejo como um bom desafio.

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Outra lenda sobre os introvertidos é que eles gostam de solidão. Mentira. Ninguém quer ficar sozinho. Todo mundo precisa de alguém. Eu adoro o contato humano. Mas acontece que a minha energia termina mais rápido do que a de alguém extrovertido. É preciso dar uma pausa e recarregar a bateria.

Vou à balada, a shows, bares, programas noturnos e me divirto normalmente, assim como participo de qualquer outra atividade que envolva interação social. Mas quando o tempo é prolongado, a energia vai acabando. Não é por chatice ou por não estar me divertindo. Independe da diversão: preciso de uma pausa. É hora de ficar um pouco sozinho para descansar e voltar ao convívio em grupo. Simples. Mas a falta de vontade de entender o outro gera pré-conceitos.

Introvertidos que ainda não entendem sua forma de funcionamento ou não se reconhecem e nem se valorizam como merecem ainda sofrem, se sentem alienígenas, oprimidos por um mundo que parece não ter sido feito para eles.

Não escrevo para fazer juízo de valor, criar um conflito, erguer bandeiras. Pelo contrário. É mostrar que não existe o certo e o errado nesse caso. Quem disse que falar e se expor demais é bom ou que falar e aparecer menos é ruim? Existem pessoas diferentes, e cada uma deve viver e ser feliz como quiser.

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>> Texto colaborativo de Ivan Borges. Jornalista, curte esportes, séries, filmes, livros e rock n ́roll. Entre uma coisa outra, gosta de escrever sobre tudo.

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