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Racismo no futebol é reflexo da sociedade, diz especialista
O dia 9 de janeiro de 2003 tentou garantir um pouco de equidade à comunidade negra do Brasil com a lei 10.639, que instituiu o Dia da Consciência Negra no calendário escolar nacional. Mais de uma década depois, porém, o País chega a um novo 20 de novembro ainda com muito a aprender e desconstruir. Como em toda análise política, teórica ou sociológica feita em solo brasileiro, o futebol não pode ser excluído do debate da ilusória democracia racial.
“O futebol é uma representação da sociedade, então ele também sustenta o mito da democracia racial. O torcedor vê os jogadores negros que se deram bem na carreira e cai na ilusão de que racismo não existe mais, de que eles têm as mesmas chances de chegarem lá”, explicou Manuel Alves Filho, jornalista e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em conversa com a Gazeta Esportiva. “Sendo que isso não é verdade. Não só para os jogadores, mas para os dirigentes, juízes, treinadores. O caminho para alcançar algum sucesso profissional sempre vai ser mais longo para eles, assim como a luta para se manter.”
A disseminação de informações progressistas feita pelos próprios movimentos sociais vai de encontro ao véu de impunidade dos estádios, e nem mesmo as novas arenas, com seus eficientes sistemas de vigilância, conseguem se manter imunes ao preconceito. Quanto mais tecnologia adotamos em nossa rotina, o número de casos de racismo parece crescer exponencialmente. Ledo engano: na era das redes sociais e da comunicação rápida, a diferença é que, hoje, as ocorrências são registradas e denunciadas em poucos cliques.
O caso mais recente a virar notícia envolveu o meia Michel Bastos. Autor do terceiro gol da vitória do São Paulo sobre o Sport, no último dia 31 de outubro, o jogador usou os dedos em um gesto de silêncio para responder às vaias que incomodavam a equipe nos compromissos anteriores, dentro e fora do Morumbi. Vinte e quatro horas depois, o atleta foi alvo de ofensas racistas em suas redes sociais. “Tenho que ficar quieto ainda?”, questionou o são-paulino em novo post no Instagram, desta vez em tom de denúncia.
Não deveria. Como já ficou provado em agressões anteriores, pouco adianta o silêncio ante um ato criminoso – destacado pelo artigo 140 do Código Penal Brasileiro, parágrafo 3: “se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, a reclusão é de um a três anos e multa”.
“As redes sociais servem como plataforma para os dois lados, tanto para a denúncia, que precisa ser feita da forma mais rápida possível, quanto para o agressor, que encontra um meio direto de atingir a vítima com base em um possível anonimato que antes não existia. Então ela serve às duas convicções, e depende muito do que a gente faz dela. Mas é evidente que a exposição também permite uma contramarcha, permite que as outras pessoas se movimentem para denunciar e entender a gravidade desse ato”, ponderou Manuel Alves Filho. “Apesar dos discursos e da própria legislação, a nossa cidadania capenga ainda é muito baseada na segregação, como diz uma colega historiadora aqui do núcleo de pesquisa. É algo que sempre fizemos com os povos negros, indígenas, orientais, pessoas de outras orientações sexuais”, lembrou o jornalista.
O melhor exemplo de como o alarde pode ser eficiente é datado de 28 de agosto de 2014. Na ocasião, o Santos derrotou o Grêmio por 2 a 0 em Porto Alegre. A festa só não foi completa em função das ofensas racistas disparadas para o goleiro Aranha, hoje no Palmeiras. Tão logo percebeu o cenário hostil, o jogador comunicou a arbitragem de Wilton Pereira Sampaio, que não paralisou o duelo. Apesar de gritada por milhares, a injúria proferida por uma torcedora gaúcha se tornou destaque ao ser registrada pelas câmeras de televisão na Arena do Grêmio, cuja leitura labial permitiu a interpretação da palavra “macaco”.
“É evidente que a legislação está aí para punir e dar exemplo, mas não dá para ser porrada e cassetete o tempo todo. Até porque não se trata de um comportamento exclusivo dos estádios de futebol. A torcedora do Grêmio que ofendeu o Aranha pode até justificar que foi coisa do calor do momento, mas ela não chamou ele de outra coisa. Não usou o termo ‘mão de alface’. Ela escolheu uma ofensa de cunho racista porque já tem esses pensamentos no dia a dia. Na hora do jogo, ela simplesmente externou uma ideia preconceituosa que já estava na cabeça dela, como na de tantos outros. A diferença é que ela teve o azar de ser flagrada por externar uma ofensa que, possivelmente, já usava no dia a dia em conversas com amigos”, destacou o comunicador.
“O futebol é uma representação da sociedade, então ele também sustenta o mito da democracia racial. O torcedor vê os jogadores negros que se deram bem na carreira e cai na ilusão de que racismo não existe mais, de que eles têm as mesmas chances de chegarem lá”, explicou Manuel Alves Filho, jornalista e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em conversa com a Gazeta Esportiva. “Sendo que isso não é verdade. Não só para os jogadores, mas para os dirigentes, juízes, treinadores. O caminho para alcançar algum sucesso profissional sempre vai ser mais longo para eles, assim como a luta para se manter.”
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O caso mais recente a virar notícia envolveu o meia Michel Bastos. Autor do terceiro gol da vitória do São Paulo sobre o Sport, no último dia 31 de outubro, o jogador usou os dedos em um gesto de silêncio para responder às vaias que incomodavam a equipe nos compromissos anteriores, dentro e fora do Morumbi. Vinte e quatro horas depois, o atleta foi alvo de ofensas racistas em suas redes sociais. “Tenho que ficar quieto ainda?”, questionou o são-paulino em novo post no Instagram, desta vez em tom de denúncia.
Não deveria. Como já ficou provado em agressões anteriores, pouco adianta o silêncio ante um ato criminoso – destacado pelo artigo 140 do Código Penal Brasileiro, parágrafo 3: “se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, a reclusão é de um a três anos e multa”.
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O melhor exemplo de como o alarde pode ser eficiente é datado de 28 de agosto de 2014. Na ocasião, o Santos derrotou o Grêmio por 2 a 0 em Porto Alegre. A festa só não foi completa em função das ofensas racistas disparadas para o goleiro Aranha, hoje no Palmeiras. Tão logo percebeu o cenário hostil, o jogador comunicou a arbitragem de Wilton Pereira Sampaio, que não paralisou o duelo. Apesar de gritada por milhares, a injúria proferida por uma torcedora gaúcha se tornou destaque ao ser registrada pelas câmeras de televisão na Arena do Grêmio, cuja leitura labial permitiu a interpretação da palavra “macaco”.
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Hoje atleta do Palmeiras, Aranha viria a sofrer as dores do racismo meses depois, em janeiro desse ano. Desta vez, o arqueiro foi atacado pela própria torcida do Santos, clube que ainda defendia, por ter entrado na Justiça do Trabalho para cobrar salários atrasados pelo Peixe. “Chamar o Aranha de macaco é ofender o próprio macaco”, agrediu um torcedor, novamente sob o véu do anonimato. A postura do goleiro difere da adotada por Daniel Alves, que decidiu comer a banana que lhe foi arremessada em campo na vitória sobre o Villarreal, em abril de 2014, e se tornou o rosto de uma campanha intitulada “Somos todos macacos”.
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“Não tenho porque ter raiva. Tenho consciência do meu valor como ser humano. Naquele jogo, eu já estava com 35 anos. Você acha que foi a primeira vez que eu sofri racismo? Aconteceu várias vezes, não só comigo. Meus filhos ficaram tristes por ver como é a vida lá fora, mas isso não tira nossa autoestima e nossa alegria. É o que eu tento passar para eles”, afirmou o gaúcho. O pesquisador Manuel Alves Filho, no entanto, não vê benefício em apontar qual resposta funciona melhor. “Depende muito da repercussão de cada caso. O importante é que eles não deixem de se manifestar contra os atos de racismo, que não deixem de vir à frente se posicionando de forma direta contra isso”, afirmou.
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Neste ponto, Manuel usa como exemplo os torcedores que invadem o campo em busca de atenção, mas que não são mostrados pelas câmeras de televisão. “Se você deixa de mostrar, você não incentiva esse comportamento, porque tudo o que aquele cara quer é ser notado. Quanto mais alcance a imagem dele tiver, mais legal vai ser. Transferindo a discussão para todas as formas de violência, não só a racial, a imprensa pode até fazer o seu mea culpa, mas deveria refletir mais. Evitar termos bélicos nos textos, por exemplo. Já é tradicional o uso de palavras como ‘guerra’ e ‘batalha’ para descrever um jogo importante. Se o atleta é voluntarioso, logo se transforma em ‘aguerrido’. A linha portuguesa é rica e pode sustentar a rivalidade do futebol de outras maneiras”, apontou o pesquisador.
O Brasil libertou seus escravos há 127 anos, mas a dívida histórica para com a comunidade negra ainda está longe de ser quitada. O feriado de 20 de novembro é um passo discreto – e fundamental – para promover a reflexão sobre a desconstrução de preconceitos enraizados, exaltar a busca pela equidade e relembrar a luta dos negros que, por três séculos, tiveram seus direitos negados. “O Dia da Consciência Negra é para exaltar as lembranças dos nossos antepassados e lutar pela evolução da condição dos negros. Temos muito a melhorar. O combate ao racismo é uma questão de conscientização, educação e conhecimento”, disse Tinga.
Aliada ao estudo sociológico do futebol, a opinião do jogador que sofreu na pele chama a atenção para a importância urgente da educação no combate ao preconceito e à invisibilidade racial. “Não dá para pensar só em punição, temos que pensar em educação de maneira não-formal. Aprender a conviver com a diversidade e se entender como nação miscigenada, não importa quantos Dias da Consciência Negra sejam necessários para que os negros tenham voz”, finalizou Manuel Alves Filho.
Clique aqui e confira a matéria original.
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Aliada ao estudo sociológico do futebol, a opinião do jogador que sofreu na pele chama a atenção para a importância urgente da educação no combate ao preconceito e à invisibilidade racial. “Não dá para pensar só em punição, temos que pensar em educação de maneira não-formal. Aprender a conviver com a diversidade e se entender como nação miscigenada, não importa quantos Dias da Consciência Negra sejam necessários para que os negros tenham voz”, finalizou Manuel Alves Filho.
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