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Zika vírus pode ser transmitido também por leite materno

Por Redação com R7 03/12/2015 18h06
Foto: Betina Charuchinski/PMPA/Fotos Públicas
As novas descobertas a respeito do zika vírus levaram os pesquisadores a uma conclusão inédita. Antes conhecida por ser transmitida apenas pelos mosquitos, agora já há a certeza de que a doença também pode ser transmitida pelo leite materno, além das relações sexuais.

A infectologista Rosana Richtmann do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e membro do Comitê Técnico Assessor de Imunizações do Ministério da Saúde confirmou que o vírus já foi encontrado na principal fonte de nutrição do bebê.

Esse vírus já foi isolado também no leite materno. A criança não vai ter a microcefalia, mas pode ter uma doença viral, com febre, dor no corpo, mais ou menos como uma outra doença, muito menos maligna e sem relação com a microcefalia.

Outra forma de transmissão que a especialista aponta como novidade é por meio de relações sexuais. Esses dois exemplos abrem possibilidades para que o vetor da doença seja também o ser humano infectado.

"Agora estamos descobrindo que há a possibilidade de transmissão sexual desse vírus, isso é novo. O vírus já foi isolado no sêmen, já sabemos que existe a possibilidade, durante a fase da doença, enquanto o paciente está com sintomas, dele transmitir esse vírus em relações sexuais".

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A constatação pode causar uma reviravolta ainda maior na presença do zika vírus no Brasil. Métodos preventivos também deverão ser adotados pelos pacientes contaminados. Para eles, os cinco dias que, em média, a infecção dura poderão ser definitivos.

Danos ao feto

A relação entre a epidemia de microcefalia identificada no Nordeste e a infecção pelo zika, confirmada pelo Ministério da Saúde no último dia 29, começou a desvendar o comportamento misterioso do vírus. Esse micro-organismo utiliza terminações nervosas do ser humano como sustentação para sua sobrevida. Essa é, possivelmente, a causa das má-formações dos fetos, conforme descreve Rosana.

— Esse vírus é neurotrópico, tem uma afinidade pelo sistema nervoso, tanto periférico quanto central. No momento em que entra na corrente sanguínea, procura terminações nervosas,

O período, relativamente curto, em que o zika fica no sangue é suficiente para ele causar um dano irreparável para o desenvolvimento fetal, ainda vulnerável a qualquer agressão biológica ou imunológica.

— Ao encontrar no organismo um hospedeiro suscetível, no caso um feto, o vírus pode entrar na circulação fetal e, no momento da formação do feto e de seu sistema nervoso, ele acaba causando esse dano, uma lesão nesse sistema, provocando a microcefalia.

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A síndrome de Guillain-Barre também teve sua relação com o zika confirmada, mas essa doença autoimune, que gera fraqueza muscular e paralisia, está relacionada, como sequela rara, a outras doenças virais, conforme diz Rosana.

— Essa síndrome é descrita em quadros pós-virais, da gripe, herpes e catapora, por exemplo. Quadros pós-virais é que podem evoluir para a Guillain-Barré. No caso do zika, já tem descrição de pacientes que tiveram Guillain-Barré, assim como vimos em dengue e chikungunya.

A febre chikungunya, segundo Rosana, também pode causar, por meio de seu vírus, problemas na gravidez, gerando a morte do feto. Por isso a recomendação de Rosana, nesse momento, é para as mulheres adiarem a gravidez até que as informações sobre as doenças sejam claras o suficente.

Por serem doenças virais, pelas análises até agora, zika, chikungunya e dengue não causam alteração genética. Por isso, Rosana acredita que um homem que contraiu zika não correrá o risco de, no futuro, ter um filho com microcefalia. Nem a mulher, após "libertada" do vírus, precisará se preocupar.

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— Para ter um filho com microcefalia o homem precisa passar o vírus para a gestante. O homem não tem como ter um filho com microcefalia sem que o vírus passe pela mãe. Não é genético, não é o gene que passa para o filho. É o vírus.

Alto risco de surto

Depois que o zika deixa de se manifestar, seus sintomas também passam. Mas, conforme ressalta o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, ainda não é possível saber se a pessoa que contrariu o zika ou a chikungunya estará imune a eles.

— Em relação à dengue, essa questão é bastante conhecida, existem quatro tipos de vírus de dengue, em tese você pode se infectar uma vez só por cada um dos vírus e ter até quatro infecções durante a vida.

São novas etapas a serem desvendadas, conforme ele afirma.

— Os mecanismos tanto para zika quanto para chikungunya não estão bem descritos, não sabemos se existem mutações desses vírus capazes de trazerem epidemias com novos vírus muito semelhantes, que, como em relação à gripe, sofrem pequenas mutações capazes de infectar novamente.

Com alguns sintomas semelhantes e outras diferenças, dengue, zika e chikungunya devem ainda permanecer por muito tempo nas estatísticas dos jornais, segundo Kfouri. O médico acredita que as chuvas que deverão desabar nos próximos verões poderão abrir as comportas para um surto.
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— Existem todas as condições para haver uma epidemia, relacionadas à transmissividade, à quantidade de mosquitos transmissores em um país como um todo, excetuando-se a região sul, com uma possível tríade de dengue, chikungunya e zika circulando simultaneamente nos próximos verões. O risco é muito grande.

A vacina da dengue, segundo Kfouri, deverá chegar ao mercado, após aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ainda no início de 2016. Terá eficácia em 60% dos casos comuns e em 90% dos graves. Já as outras, deverão demorar muito tempo para terem uma vacina, segundo o infectologista, que faz uma ressalva.

— Mesmo com a vacina da dengue no mercado, ela não vai ser suficiente para toda a população. A prevenção não é apenas um papel do governo. Não dá para enxergar todo esse controle como uma responsabilidade só dos agentes de saúde.

Para ele, a questão da prevenção depende de uma atuação integrada e consciente da sociedade e do poder público.

— Existe hoje um verdadeiro exército de agentes visitando casas e, dependendo do município, até com autorização judicial para entrar. Hoje precisamos discutir mais a educação da população e a informação. Cada um de nós tem uma responsabilidade sobre isso.