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Grupo finge ser da PF e faz arrastão em prédio de preso na Lava Jato

Por via G1 15/04/2016 10h10 - Atualizado em 15/04/2016 13h01
Ronan Maria Pinto e Silvio Pereira, presos durante a 27ª fase da Operação Lava Jato, chegam ao Insti - Foto: Rodrigo Felix Leal/Futura Press/Estadão Conteúdo
Assaltantes vestidos como agentes da PF invadiram um prédio onde mora o empresário Ronan Maria Pinto em Santo André, no ABC, nesta quinta-feira (14). Dono do jornal "Diário do Grande ABC", ele foi preso na 27ª fase da Operação Lava Jato. Não havia informação de presos pelo assalto desta quinta.

Segundo a Polícia Civil, dois apartamentos, um no 7º e outro no 8º andares, foram assaltados no edifício, que fica na Rua Dona Carlota, 262, na Vila Bastos, região central. O edifício de alto padrão tem um apartamento por andar.

De acordo com policiais do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) ouvidos pela reportagem da TV Globo, a ação ocorreu entre 5h30 e 8h. Pelo menos 10 homens com roupa de agentes da PF disseram a funcionários que fariam uma diligência no apartamento do empresário.

Para a polícia, o porteiro disse que os assaltantes o ameaçaram de prisão por obstrução da justiça caso não abrisse o portão. Por isso ele deixou a quadrilha entrar em dois carros de polícia falsos: um Freemont preto e um Citroën branco.

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Ao entrar no prédio, o grupo rendeu o porteiro e outros funcionários. Depois, renderam um casal e chegaram a entrar no apartamento deles, mas não levaram nada. Após isso, aproveitaram que um morador desceu para reclamar por não ter recebido seu jornal e o renderam.

Além do apartamento desta vítima, os assaltantes também roubaram outro (segundo os investigadores, nenhum deles era de Ronan). Os criminosos levaram joias e dinheiro. As vítimas foram ouvidas por investigadores no próprio edifício, pois estavam apavoradas. Segundo o delegado Giuliano Travain, assistente do 1º Distrito Policial de Santo André, os moradores ainda não apresentaram o levantamento do que foi roubado.

Abordagem
A reportagem esteve no prédio e verificou que havia quatro câmeras de segurança perto do portão. “A portaria é blindada, possui sistema de monitoramento por imagens, mas o HD que contém as gravações foi subtraído também”, disse o delegado Travain. O policial acrescentou que sempre que houver dúvida quanto a veracidade de uma operação policial, a corporação deve ser acionada.

A PF informou, em nota, que seus agentes "sempre cumprem mandados judiciais portanto suas carteiras funcionais". "Em caso de dúvida, solicitar a identificação do chefe da equipe, com apresentação da carteira funcional e também o mandado judicial que está sendo cumprido. Pedir para ver os dois documentos, informando que não será avisado ao andar aonde os policiais se dirigem, apenas para conferência e abertura do portão."

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O comunicado acrescenta que a PF “não foi oficialmente informada da ocorrência e de seus detalhes" e que "não se trata de crime de atribuição da Polícia Federal (por ser um roubo comum, com o uso de materiais com o nome da Polícia Federal sendo utilizados para facilitar esse crime)". O comunicado acrescenta, porém, que a corporação "poderá atuar em colaboração com a Polícia e a Justiça estaduais, caso seja solicitado".

Lava Jato
Ronan foi preso em 1º de abril, durante a 27ª fase da Lava Jato, batizada de Carbono 14. Além dele, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, conhecido como Silvinho, também foi alvo da operação. No dia 5, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, decidiu converter a prisão temporária do empresário em preventiva - ou seja, por tempo indeterminado.

Para Moro, manter Ronan preso traz "riscos à investigação, à instrução criminal e à ordem pública". Segundo as investigações, ele teria recebido R$ 6 milhões em troca da não publicação de supostas informações que ligariam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho à morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).

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As investigações apontaram indícios de que Ronan conseguiu o dinheiro ameaçando publicar as informações no jornal Diário do Grande ABC, do qual é dono. A quantia que recebeu, conforme o MPF, foi repassada por meio de um empréstimo feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai, junto ao Banco Schahin.

Bumlai reconheceu em depoimento que fez um empréstimo de R$ 12 milhões a pedido do PT e disse que a quantia nunca foi paga ao banco. O dinheiro seria para pagar dívidas de campanha.

O MPF diz que a dívida do pecuarista foi, na verdade, um pagamento de propina da Schahin, cuja empresa de engenharia pertence ao grupo fechou um contrato no valor de US,1,6 bilhão para o aluguel de navios-sonda para a Petrobras.

Do montante do empréstimo, metade foi repassada à empresa Remar e que, posteriormente, teria chegado a Ronan Maria Pinto. O MPF sustenta que essa intermediação foi feita para garantir que os recursos não fossem encaminhados diretamente ao empresário.

Ronan nega que tenha feito algum tipo de chantagem. Em depoimento prestado à Polícia Federal na segunda-feira (4), o empresário disse que, de fato, pegou R$ 6 milhões da Remar, mas afirmou que o dinheiro era para pagar a compra de uma nova frota para a empresa de ônibus da qual também é proprietário.

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A questão envolvendo o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira também passa pelo suposto esquema de chantagem. Ele é suspeito de ter sido o principal intermediador entre Ronan Maria Pinto e o PT. Ao contrário de Ronan, Silvinho foi solto.