/75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_TOPO |

Alguns garotos da República Dominicana passam a infância toda sem pênis

Por Revista Galileu 03/10/2016 07h07 - Atualizado em 03/10/2016 11h11
A família de Johny, ex-Felicita, só descobriu que ele era um menino aos sete anos de idade. - Foto: Divulgação BBC
Em uma pequena cidade chamada Las Salinas, no sudoeste da República Dominicana, a adolescência é coisa séria. Uma rara condição genética faz com que diversas crianças da região só desenvolvam um pênis quando a puberdade chega. Antes disso, elas usam vestidos, brincam de boneca e são chamadas por nomes como Carla ou Felicita, apesar de todas terem o mesmo apelido: “guevedoces” – pênis aos doze.

A característica genética que faz com que isso aconteça é bastante rara ao redor do mundo, mas por algum motivo é comum nessa pequena cidade – segundo o site do jornal britânico The Telegraph, um em cada 90 meninos apresentam o problema. Nas primeiras oito semanas após a concepção – nossos primeiros dias dentro do útero – ainda não temos sexo definido. Futuros homens têm um par de cromossomos XY, enquanto as futuras mulheres possuem um par de cromossomos XX. Normalmente, é só a partir da oitava semana que nossos hormônios sexuais se manifestam – é nesse momento que a diferenciação ocorre. No caso dos homens, as gônadas, estruturas presentes nos dois sexos, então se transformam em testículos e uma pequena estrutura chamada tubérculo se transforma no pênis ou então no clitóris se o bebê tiver um par de cromossomos XX.

pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_02
A falta de um desses hormônios, chamado de dihidrotestosterona, nesse momento vital é o que causa a condição dos guevedoces, que carecem de uma enzima chamada 5-alfarredutase, substância que estimula a conversão da testosterona em em di-hidrotestosterona. Nesses garotos de Las Salinas, o pênis e os testículos só se manifestam externamente na segunda enxurrada de hormônios, que acontece justamente na faixa dos 12 anos, quando o que até então aparentava ser uma vagina fica com a aparência de pênis.

O jovem Johnny, de 24 anos, era chamado de Felicita até os 7 anos de idade. O garoto diz ter nascido em casa, sem o acompanhamento médico de profissionais. Dada a ausência de pênis, seus pais assumiram que ele era uma menina, dispensando a ele o tratamento estereotipado que a maioria das garotas recebe – Johnny diz lembrar de não gostar de usar o vestido vermelho que seus pais o vestiam para ir à escola, Johnny diz que sempre ignorou os brinquedos “de menina” que seus pais o davam, preferindo as brincadeiras de seus colegas meninos.

Os primeiros registros formais dos guevedoces foram realizados na década de 70 por Julianne Imperato, uma endocrinologista da Cornell University, dos EUA. Naquela época, fora da República Dominicana essa condição genética tinha mais jeito de lenda do que de algo que devesse ser estudado pela ciência. Casos semelhantes foram documentados em vilarejos da Papua Nova Guiné, com a diferença que no país da Oceania as crianças são tradicionalmente vistas como uma espécie de “homem fracassado” e é comum que os guevedoce de lá sejam rejeitados pela sociedade.

pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_03
De acordo com as pesquisas já realizadas, depois de desenvolvidos, os órgãos sexuais funcionam normalmente, com uma tendência à redução no tamanho da próstata dos guevedoces. Quando essa última informação foi divulgada, em 1974, a companhia farmacêutica Merck iniciou as pesquisas que, anos mais tarde, dariam origem à finasterida, medicamento extremamente popular no combate à calvície, mas que originalmente foi concebido para tratar a hiperplasia prostática benigna ao bloquear a ação da tal enzima 5-alfarredutase, impedindo o aumento da próstata ao emular a mesma condição genética que fez Felicita virar Johnny.