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Mulher e adolescente morrem após deslizamento de barreira em Recife

Por Diário de Pernambuco 01/06/2017 09h09 - Atualizado em 01/06/2017 12h12
Mulher morre após deslizamento de barreira em Dois Unidos, no Recife. - Foto: Laís Leon/Esp. DP
Subiu para cinco o número de mortes em decorrência das fortes chuvas que atingem o estado nos últimos dias. Na manhã desta quarta-feira, uma mulher de 37 anos e o primo dela, um adolescente de 14 anos, morreram após o deslizamento de uma barreira no bairro de Dois Unidos, Zona Norte do Recife. O filho da vítima, um garoto de nove anos, também ficou ferido. Após três deslizamentos, essas foram as primeiras mortes registradas no Recife por conta das chuvas. No final de semana, um casal morreu em Lagoa dos Gatos e, nessa terça, um homem que estava desaparecido desde sábado foi encontrado morto em Caruaru.

Nesta manhã, o deslizamento atingiu duas casas na Rua Leôncio Rodrigues. O acidente aconteceu por volta das 10h30. A técnica de enfermagem Miriam Pereira, o primo dela Deivison Ferreira de Oliveira, o filho Samuel e o padrasto do adolescente, Luis Henrique de Andrade, 39, conversavam quando houve o desabamento. "Eu estava com eles no local do acidente. A gente viu que estava caindo um pouco de barro, areia, mas era um pouquinho só. Eu ainda avisei que ia cair. Quando a gente começou a tirar, caiu tudo", lembrou Luis Henrique. Por sorte, ele não ficou ferido. "Foi tudo muito rápido. Quando eu vi, o Deivison já estava na cozinha de outra casa com a barreira desabando. Tentei tirar eles na hora, mas não deu. A população é que conseguiu", disse.

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Miriam Pereira não resistiu ao desmoronamento, ela ficou presa aos escombros e morreu no local. Deivison também ficou preso, mas chegou a ser resgatado e socorrido junto ao filho de Miriam para a Unidade de Pronto Atendimento de Nova Descoberta. Samuel teve ferimentos leves, já recebeu alta e está com a família. Deivison não sobreviveu.

 

Técnica em enfermagem deixou marido e filho. Foto: Laís Leon/Esp. DP

O marido de Miriam, José Júlio Silva, 50, é técnico de enfermagem e estava de plantão durante o acidente. "Fiquei sabendo quando cheguei. Todo mundo veio pra cima deles quando houve o deslizamento. Os vizinhos estavam tentando ajudar e conseguiram resgatar todo mundo. Colocaram no carro e levaram para a UPA, mas ela já estava morta", desabafou. De acordo com ele, acidentes do tipo são recorrentes na área.

"Ela era uma pessoa maravilhosa, evangélica e muito tranquila. Até agora, não estamos aceitando que ela está morta. É um choque muito grande. Isso tudo poderia ter sido evitado. Não apenas com a minha cunhada, mas com muitos outros. A gente não mora aqui porque quer. Não temos opção. Agora, a prefeitura aparece querendo ajudar, mas não queremos ajuda, a gente quer ela de volta. Colocar lona é tapar o sol com a peneira, não resolve. Para um leigo, parece que funciona, mas quem está aqui sofrendo sabe como é. Quantos não perderam pai, mãe e filhos por aí?", questionou Solange da Silva Brito, 56, cunhada de Miriam.

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Miriam Pereira nasceu e se criou em Dois Unidos. Casou com Julio e continuou morando no bairro e cuidando de uma familiar com Alzheimer. "O relacionamento da gente era o melhor possível. Essa tragédia era programada. Todo mundo sabia. Eu moro aqui desde 1964 e poderia ter sido evitado. Se isso fosse de madrugada ou de noite, não teria sobrado ninguém", denunciou o tio da vítima, Jessé Pereira de Mendonça.

Deivison Ferreira era estudante do 6º ano da Escola Municipal Paulo VI e tinha quatro irmãos. Ele queria ser desenhista. Segundo familiares, era um menino calmo, não tinha vícios e se divertia empinando pipas na comunidade. "A mãe dele chegou da UPA e está na casa da família. Está muito difícil agora", contou o padrasto Luis Henrique.

A Defesa Civil do Recife foi ao local prestar assistência às vítimas. "Nós lamentamos muito o ocorrido. Trabalhamos com a prevenção, mas, infelizmente, houve o acidente e esse teve vítimas. Tivemos uma quantidade de chuva muito grande no Recife. Em um período de seis horas, foram mais de 80 mm, o previsto para dez dias. Agora, vamos traçar o diagnóstico do cenário para chegar as causas do acidente", explicou Elaine Holanda, gerente de engenharia da Defesa Civil.

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Segundo a secretária de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna, as duas famílias estão recebendo toda a assistência necessária. "A Prefeitura do Recife monitora essas áreas de risco e, só na Operação Inverno, já monitoramos 30 mil pontos. Até agora, tivemos três deslizamentos, infelizmente, teve esse com falecimento de algumas pessoas. A Defesa Civil trabalha de inverno a verão tanto na prevenção quanto em situação de emergência", declarou. A PCR vai disponibilizar o funeral, caso as famílias queiram.

MAIS DESLIZAMENTOS
A Defesa Civil do Recife registrou, na manhã desta quarta-feira, outros dois deslizamentos de barreiras. Um deles aconteceu na Rua Padre Cícero, na Várzea, e o outro na Rua Doutor Andrade Lyra, no Jordão. Trezentos e cinquenta profissionais estão de plantão. Em caso de emergência, a população do Recife pode solicitar atendimento através do fone 0800 081 3400. A ligação é gratuita e a Central de Atendimento funciona 24 horas.

Em Jaboatão dos Guararapes, município que registrou o maior volume de chuvas nesta quarta-feira em todo o estado, duas barreiras deslizaram esta manhã no bairro de Dois Carneiros. Uma delas atingiu um imóvel. A casa, interditada desde março, estava vazia no momento do acidente. Ninguém ficou ferido.