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Guerra do PCC com CV e facções locais leva à alta de homicídios em 3 Estados do Nordeste

Por Redação com uol 20/08/2017 17h05 - Atualizado em 20/08/2017 20h08
Foto: Divulgação
"O salve [ordem escrita] é para matar quem for PCC. Hoje mesmo mataram um e mandaram um vídeo. Quando sair, tem que rasgar a camisa e ficar de boa", diz, por telefone, um homem investigado, sendo retrucado em seguida por uma mulher também investigada. "Não tem que rasgar a camisa, não; tem que arrancar a cabeça dele."

O diálogo interceptado pela polícia de Alagoas está transcrito em uma decisão judicial de 28 de abril de 2017, em que a defesa dos dois suspeitos de tráfico de drogas pedia a liberdade da prisão preventiva. A Justiça negou por entender que a soltura da dupla traria riscos à sociedade.

A conversa entre os dois criminosos revela um cenário que já é percebido pelas autoridades do Nordeste e fez o número de assassinatos explodir, comparando-se os números do primeiro semestre deste ano com o mesmo período do ano passado: aumento de 11% em Alagoas, 25,4% no Ceará e 22,4% no Rio Grande do Norte.

São nestes três Estados que a maior facção criminosa do país, o PCC (Primeiro Comando da Capital), está mais presente no Nordeste. E, em todos eles, está em guerra com o CV (Comando Vermelho) e facções locais por espaço dentro e foora dos presídios. Decisões dos tribunais de Justiça dos outros seis Estados nordestinos, a cujo conteúdo o UOL teve acesso, indicam que o grupo criminoso paulista está presente em toda a região.

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Segundo levantamento do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), o Nordeste e o Norte já respondem por um terço de filiados do PCC. Os nove Estados nordestinos juntos teriam 3.818 filiados ao PCC (sendo 73% desse total no trio citado acima). "Estes Estados têm mais membros 'batizados' do PCC porque são os que, originalmente, detinham em seus respectivos sistemas prisionais o maior número de detentos paulistas. Esses detentos paulistas já eram do PCC e passaram então a cooptar os criminosos locais", afirma o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, membro do Gaeco do MP-SP (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Lotado no núcleo do Gaeco de Presidente Prudente (distante 558 km de São Paulo), Gakiya comanda, há mais de uma década, investigações sobre a facção paulista.

Investigações oficiais detectam a presença do PCC no Nordeste desde, pelo menos, o ano de 2006, quando foi realizada a CPI do Tráfico de Armas.

À época, a investigação parlamentar revelou que o chefe da facção paulista, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, enviou o traficante Sidnei Romualdo para comandar ações do PCC na região. Paraibano criado em Diadema (SP), Sidnei foi preso em Pernambuco. Há dois anos, ele tentou sem sucesso escapar de uma prisão em Sergipe.

Guerra pelo Nordeste


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Como já foi dito, PCC e CV estão presentes no Nordeste ou possuem coligações com ramificações locais. "Temos certeza de que as mortes cresceram [pela guerra de facções], todas as inteligências apontam isso", afirma o secretário de Segurança Pública de Alagoas, Lima Júnior.

"Tivemos um pico nos três primeiros meses, após a matança nos presídios. Dali desencadearam esses comandos para se matarem, e isso tem por trás a disputa nacional pelo tráfico", complementa. 

Em Alagoas, o número de assassinatos cresceu 12% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram 1.031 mortes, contra 923 nos seis primeiros meses de 2016. O número crítico, porém, aparece na capital Maceió [onde se concentra a guerra de facções], com aumento de 69%: 372 mortes no primeiro semestre contra 220 em 2016. 

Segundo levantamento do MP-SP, o Estado é o segundo em número de faccionados do PCC no Nordeste, atrás apenas do Ceará. No levantamento do MP-SP, seriam 970. Mas a secretaria alagoana já contabiliza mais de 1.300 nomes ligados a ela, dentro e fora das cadeias.

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No Estado, a guerra é diretamente entre ligados ao PCC e ao CV, sem "intermediários". "Essa guerra tem os integrantes de facções como vítimas e autores. A grande maioria de quem tem morrido nesse período tem passagem pela polícia ou sistema prisional. São faccionados e simpatizantes", completa.

"Certa vez, dois presos do CV pediram para ser levados para a ala do PCC em um presídio aqui. Queriam guerra, iam morrer, e claro que não foi permitido. Mas eles são assim, se arriscam sem planejamento, parecem loucos e impõem medo por isso", contou um policial militar alagoano, sob sigilo.