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“Celebrando o esforço de um homem”, diz desembargador após colação de grau em Direito de reeducando

Por Dicom/TJ-AL 30/04/2019 21h09 - Atualizado em 01/05/2019 00h12
Foto: Adeildo Lobo
Quando foi preso, em 2009, Cícero Alves Júnior não imaginava que poderia escrever um futuro diferente para sua vida. Nesta terça-feira (30), já em regime aberto, o reeducando colou grau no curso de Administração, na Presidência do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL).

Para o presidente Tutmés Airan de Albuquerque, Cícero Alves é um dos exemplos de que o homem é capaz de cumprir sua pena e se redimir. Para o desembargador, a sociedade precisa transcender o senso comum de que se alguém delinquir uma vez será eternamente delinquente.

“Não estamos homenageando uma pessoa que cometeu um crime, estamos celebrando o esforço de um homem que em condições adversas ousou alavancar a sua vida pelo estudo e o mais importante é que nós estamos amplificando esse gesto. Não há prisão perpétua e nem pena de morte no nosso país, o cidadão que infringiu a lei e foi preso vai voltar um dia para a sociedade e se ele vai voltar, que volte melhor”, destacou o presidente.

O desembargador Celyrio Adamastor Accioly, supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional (GMF), destacou a importância do Núcleo Ressocializador da Capital que atualmente conta com cerca de 60 presos fazendo cursos à distância.

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“É o primeiro reeducando que está colando grau, sem esquecermos dos outros cursos que ele fez dentro do sistema. Ressocializar é educar e o Tribunal de Justiça nada mais está fazendo do que cumprir com o ordenamento da lei de execução penal, sobretudo com determinação do Conselho Nacional de Justiça”, disse.

Para o diretor-geral da Unopar, Benedito Anadão, a graduação de um reeducando comprova a importância do ensino para a nossa sociedade. “A educação não tem fronteiras, ela passou pelos muros do presídio e mostrou que pode sim participar das vidas das pessoas, Cícero é um marco para nossa instituição. A Unopar conta com 950 polos e somente em Maceió que temos alunos reeducandos. Para isso, contamos com o desembargador Celyrio Adamastor, o juiz Braga Neto e toda direção do núcleo que apoiaram a inclusão do ensino superior a distância no Núcleo Ressocializador”, contou.

A diretora do curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e coordenadora do projeto de extensão Reconstruindo Elos, Elaine Pimentel, destacou o esforço de Cícero Alves ao se dedicar aos estudos. “Ser aqui na casa de Justiça a diplomação de alguém que agora está de volta à sociedade, é o reconhecimento de um esforço pessoal muito grande, de querer fazer diferente. Como acadêmica e professora que vive nos presídios é uma história que a gente tem muito que celebrar.

Trajetória

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Preso em 2009, Cícero só foi transferido para o Núcleo Ressocializador em 2015, quando pediu apoio à gestora do núcleo da época, Geórgia Hilário, que gostou da ideia e entrou em contato com o juiz José Braga Neto, da Vara de Execuções Penais. A iniciativa do reeducando abriu portas para a educação no sistema prisional de Alagoas.

No início, Cícero disse ter enfrentado diversas dificuldades, porque nenhum preso já tinha cursado o ensino superior de dentro do sistema prisional até o momento em Alagoas. “Foi muito difícil, porque tinha que quebrar a questão da segurança, as pessoas tinham que confiar na gente por ter acesso ao computador, e a gente tinha que provar que o computador era utilizado somente para estudos. Depois de um tempo pegamos confiança, e a gente já não tinha mais monitor na sala”, explica.

Durante o tempo de reclusão, o reeducando concluiu mais de 80 cursos profissionalizantes em diversas áreas, como a administrativa, de informática e marketing. Cícero também desenvolveu um artigo científico, intitulado “Educação e Ressocialização no Sistema Prisional”, que foi publicado no livro Educação em Prisões: princípios, políticas públicas e práticas educativas, publicado em dezembro de 2018.

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Uma das motivações de Cícero foi o exemplo do pai, já falecido, que realizou o sonho de se formar em Engenharia Civil aos 65 anos. A escolha da mudança também serve de inspiração para outros reclusos. “Não é porque a gente tá recluso que a gente tem que sair pior do que entrou, eu optei por sair melhor”.

Atualmente, Cícero Alves é casado, tem um filho de 4 anos e está fazendo pós-graduação. Agora que está em regime aberto, tem planos futuros, como dar palestras sobre seu tema principal de estudo, e publicar um livro contando sua história durante os quase 10 anos de reclusão.