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Padre que ficou desaparecido na PB forjou sequestro porque estava sendo extorquido, diz delegado

Padre José Gilmar vai ser indiciado por falsa comunicação de crime. Caso de extorsão segue em investigação

Por Da redação com G1 26/10/2020 16h04
Padre Gilmar enviou mensagem a amigo, com pedido de socorro - Foto: Reprodução

O padre José Gilmar Moreira, que passou três dias desaparecido no Litoral Sul da Paraíba, forjou um seqüestro e o pedido de socorro porque estava sendo extorquido, segundo afirmou o superintendente da Polícia Civil, Luciano Soares, nesta segunda-feira (26).

O religioso foi encontrado no dia 16 de outubro, em Jacumã, no Conde. Ele estava debilitado e com sinais de desidratação, mas consciente e sem sinais de que teria sofrido violência.

Os detalhes foram passados pelo próprio padre, em depoimento, segundo o delegado. Ele vai ser indiciado por falsa comunicação de crime.

O caso da extorsão, no qual o religioso relata que lhe pediam R$ 50 mil, deve ser investigado pela Delegacia de Roubos e Furtos. E, por isso, as razões pelas quais ele estaria sendo extorquido ainda não foram divulgadas.

Relembre o caso


Responsável pela paróquia de Santa Teresinha, no Alto Róger, em João Pessoa, padre Gilmar desapareceu por volta das 11h30 do dia 13 de outubro, quando ia para um velório.

Segundo o vigário geral da Arquidiocese da Paraíba, Luís Júnior, ele saiu para acompanhar um velório, mas não chegou ao local.

Às 12h15 daquele dia, José Gilmar enviou uma mensagem para Luís Júnior com a palavra "socorro".

Ele foi encontrado três dias depois, em 16 de outubro.

Tentativa de afogamento


Após ser encontrado, o padre afirmou, em depoimento à polícia, que estava sendo extorquido e que não queria usar o dinheiro ao qual tinha acesso na igreja para fazer o pagamento. Ele afirmou que não procurou a polícia por medo de que algo acontecesse com ele.

O prazo para o pagamento dos R$ 50 mil exigidos seria até as 14h do dia 13 de outubro. Antes do horário final, ele disse que decidiu dirigir em direção ao Litoral Sul e tentar se afogar na praia de Coqueirinho. No local, ele mandou a mensagem de socorro.

“Ele deixa claro que mandou aquela mensagem quando já se encontrava no Litoral Sul e queria que todos imaginassem que ele estaria sendo vítima. Foi forjado", disse o delegado.

"Já foi premeditado. Ele mandou para um religioso que raramente tem acesso ao celular, dada as atribuições que tem no cotidiano. Então imaginava que ele teria um tempo até que essa mensagem fosse visualizada. Ele poderia dar cabo à vida e apresentar um cenário como se tivesse sido seqüestrado de fato e assassinado”.

Também segundo o delegado, José Gilmar entrou no mar várias vezes, mas as ondas o jogaram na areia — o que ele disse ter entendido como "um sinal".

“Ele entendeu como sendo um sinal de Deus para que ele não fizesse aquele gesto extremo. Depois disso, ele permaneceu no carro por dois dias orando”.

Encontrado em estrada


Assim que foi encontrado, o padre relatou aos policiais que foi confundido com um motorista de aplicativo e levado a um cativeiro em área de mata fechada, onde disse ter sido amarrado e ameaçado para transferir dinheiro aos criminosos.

Padre Gilmar foi encontrado um pouco desorientado caminhando na beira de uma estrada perto de Jacumã. Ele foi reconhecido por Agenor Lima Rocha, amigo do religioso que acompanhava a polícia.

"A gente passou por ele, eu e um agente da Polícia Civil, e ele não deu sinal pra gente. Ele só foi localizado porque em outra viatura havia uma pessoa que trabalhava com ele na paróquia e o reconheceu", disse o delegado.

Abraço e choro


De acordo com Agenor, o padre o abraçou e chorou ao ser encontrado.

"A gente tinha muita dúvida do que tinha acontecido. A polícia ficou o tempo todo ao nosso lado, o tempo todo nos auxiliando, pra ver se a gente conseguia alguma notícia, e graças a Deus foi à melhor possível", disse Agenor.

Após ser resgatado, o padre foi levado para a Central de Polícia, em João Pessoa, onde prestou depoimento e recebeu atendimento médico.

Em nota, a Arquidiocese da Paraíba informou que o padre está sendo acompanhado pelo setor jurídico da Arquidiocese e por pessoas próximas ao sacerdote.