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Escavação para construção de ferrovia revela fóssil de dinossauro no Maranhão

Por Redação com Folha Press 07/10/2021 11h11
Fóssil encontrado durante escavação no Maranhão - Foto: Divulgação / Brado

A escavação que estava sendo realizada no município de Davinópolis (região metropolitana de Imperatriz), no Maranhão, para construção de uma ferrovia, resultou na descoberta de um fóssil de dinossauro gigante.

O animal ainda é desconhecido para a comunidade científica e é o primeiro dinossauro conhecido para a região, consequentemente um importante registro para a história evolutiva do grupo dos saurópodes, que viveram onde hoje é o Brasil, há cerca de 130 milhões de anos, no período conhecido como Cretáceo Inferior.

Entre os materiais encontrados estão um fêmur de mais de 1,5 metro de comprimento, demais ossos longos, como uma possível tíbia, pés e mãos, diversas costelas e vértebras.

Apesar de ainda não ser possível saber qual é a espécie do novo dinossauro, pelo tamanho dos ossos e o tipo deles, é provável que sejam de um titanossauro, grupo de dinossauros pescoçudos que surgiu no final do Jurássico, há cerca de 163 milhões de anos. Eles viveram até o final do Cretáceo, quando foram extintos com os demais dinossauros não-avianos (há 66 milhões de anos).

"Já se sabia pela literatura de alguns registros mais ao norte do estado, mas esse é o primeiro fóssil de vertebrado de grande porte para a localidade, que possui em geral achados de peixes e plantas fósseis", explica Elver Luiz Mayer, paleontólogo e professor da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), responsável pela preparação e estudo do dino.

O tamanho estimado do dinossauro é de até 18 metros de comprimento, cerca de o dobro de outro pescoçudo também encontrado no estado do Maranhão, o Amazonsaurus maranhensis, um dos menores titanossauros descritos até hoje.

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Mas, diferente do Amazonsaurus, o novo espécime está próximo à região conhecida como Tocantins da Formação Itapecuru, enquanto o primeiro foi encontrado mais ao norte no estado.

Os registros de titanossauros brasileiros foram descritos principalmente para as regiões onde estão as bacias Sanfranciscana, Paraná e Bauru, nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Um dos exemplares encontrados com melhor estado de preservação, incluindo um crânio com mandíbulas completo, é o Tapuiasaurus macedoi, achado em rochas próximas ao município de Coração de Jesus, no norte de MG. Foi o primeiro dinossauro saurópode brasileiro a ter uma cabeça também preservada.

O fóssil de Davinópolis não possui nenhum material de crânio ou dentes isolados, pelo menos que tenha sido localizado até agora. "Embora o trabalho de coleta tenha sido exaustivo, há indícios de que há mais material fóssil na área porque o talude é bem extenso, e tem um estrato rochoso de cerca de dez metros para cima", explica Mayer.

Inicialmente, os funcionários da empresa Brado, responsável pela obra de terraplanagem na região e que encontraram o fóssil, acreditavam se tratar de ossos de preguiças gigantes, animais que viveram há cerca de 11 mil anos e se extinguiram no último período glacial.

Por isso, foi então chamada uma equipe de arqueólogos que acompanhavam a obra. Eles entraram em contato com Mayer, cuja especialidade são os mamíferos do Quaternário (período conhecido pela última Era do Gelo). "Mas, quando chegamos, vimos que era algo muito maior e que viveu há mais tempo devido à profundidade em que os ossos foram enterrados", afirma.

Após obtidas as autorizações da Agência Nacional de Mineração para retirada do material para fins didáticos, sem interesse de exploração -fósseis são bens da União e portanto não podem ser explorados ou comercializados-, o material foi levado ao laboratório do Grupo de Estudos em Paleontologia (GePaleo) da Unifesspa, em São Félix do Xingu. Lá ele está sendo preparado por Mayer e sua equipe.

Devido à idade estimada das rochas de onde o fóssil foi retirado, a formação Itapecuru, é possível que o novo dino seja de idade próxima ao tapuia, como é carinhosamente apelidado o pescoçudo do norte de Minas, explica Bruno Navarro, paleontólogo do Museu de Zoologia da USP, que defendeu sua dissertação de mestrado na instituição sobre a evolução de titanossauros.

"É raro encontrar um fóssil de grande porte em um bom estado de preservação. Em geral, no grupo dos titanossauros, é mais comum encontrar vértebras articuladas ou não. É difícil achar ossos longos bem preservados. O achado é de suma importância porque abre uma nova fronteira para o entendimento da fauna da região, que até então era conhecida por alguns fósseis de plantas, insetos e peixes", explica Navarro.

Além disso, sabendo que os titanossauros surgiram no final do Jurássico, mas há registros na América do Sul principalmente do Cretáceo Inferior para frente, com poucos achados mais antigos, o novo dino pode trazer novas informações sobre a história evolutiva do grupo.

"Se ele poderia ser um parente de outros titanossauros brasileiros, como o próprio tapuia, não se sabe. É preciso que ele seja estudado, mas pode trazer informações relevantes sobre as características mais primitivas desse grupo na região onde hoje é o Brasil", afirma.

A comunidade paleontológica pode até aguardar ansiosamente pela descrição da nova espécie, mas ela ainda deve demorar, no mínimo, uns cinco anos.

"Para preparar todo o material, considerando ainda o impacto da pandemia no acesso dos alunos aos laboratórios, ainda serão necessários por volta de dois anos. E em paralelo vamos estudar o material com os demais saurópodes conhecidos, para tentar conseguir apresentar esse fóssil à comunidade o mais breve possível", completa Mayer.