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Especialistas lucram com aulas sobre como vender e usar brinquedos sem tabus

Por Folha de S. Paulo 17/09/2022 16h04
Natali Gutierrez e Renan de Paula são donos da Dona Coelha, que tem como carro-chefe o seguimento de sex toys - Foto: Jardiel Carvalho/Folhapress

"Numa noite, meu marido me acordou e disse que Deus falou para ele que eu abriria uma sex shop e ajudaria mulheres dando palestras." O relato é de Gisele Carneiro, 43, empresária evangélica especializada em sexualidade.


Ela lançou, no início do ano, um curso voltado à formação do que ela chama de sexcoach —que são os profissionais encarregados de dar consultorias em sexualidade aos clientes desse mercado. Para Carneiro, cada vez mais empreendedores compreendem que é necessário não só comercializar os produtos, mas tirar dúvidas dos clientes.


"Quem busca essa formação não quer só vender. Eu acho que é esse o olhar do mercado hoje, ajudar pessoas e quebrar tabus, mas com conhecimento", afirma.


O mercado erótico está em ascensão. No Brasil, o número de empresas no setor cresceu três vezes durante a pandemia, de acordo com o portal Mercado Erótico. A entrada de Carneiro no segmento ocorreu há 13 anos, quando o ex-marido justificou traições por causa do desempenho sexual dela e pediu o divórcio.


Depois disso, ela quis conhecer mais sobre o tema e começou a frequentar sex shops por incentivo do novo marido, Robson. O parceiro, que também é evangélico, diz ter recebido a tal mensagem divina indicando a nova profissão da mulher. A partir daí, o casal abriu uma loja de produtos eróticos, a Romântica Boutique, em Bauru (SP), e Carneiro investiu em formações em sexologia, consultoria em saúde e educação sexual. Hoje, ela também oferece palestras e consultas particulares, nas quais usa passagens da Bíblia.


"Eu falo que a Bíblia tem várias dicas de sedução, então só não transa e não faz coisas diferentes o cristão que não quer", afirma. Ela cita passagens bíblicas nas palestras. "Salomão relata atos íntimos com sua amada. Ele fala, por exemplo, ‘seus seios são como uvas’. Aí eu falo ‘uva é para quê? Para chupar'. Brinco assim", afirma.


O curso de Carneiro, disponível na plataforma Hotmart por R$ 2.559, é composto de aulas sobre sexualidade, sobre a venda de produtos eróticos e treinamento para consultores. Atualmente, a empresária tem 149 alunos. Ela emprega três pessoas e fatura cerca de R$ 50 mil por mês; o lucro é metade disso.


A terapeuta sexual Thais Plaza, 42, diz que sua função como profissional da área é ajudar o cliente a aprender a se divertir com brinquedos, sozinho ou acompanhado. A principal dúvida de mulheres que aparece em seu consultório, afirma, é sobre como chegar ao orgasmo. No caso dos homens, o medo maior recai sobre não ter ou conseguir manter a ereção.


Plaza acredita que o diferencial dos bons profissionais é investir na atuação como agentes de educação sexual. Ela afirma ter lucro de R$ 5.000 como terapeuta e entre R$ 10 mil e R$ 15 mil mensalmente como consultora da empresa de produtos eróticos A Sós.


"A sexualidade é uma área muito delicada porque a gente entra na intimidade das pessoas. Para se ter sucesso e um bom resultado, é preciso priorizar o conhecimento e a educação continuada", diz.


Graça Tessarioli, diretora da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), diz que quem quer investir em educação no setor precisa montar um corpo docente especializado e estar atento às atualizações do mercado. Além disso, explica que é necessário aprender a lidar com tabus. Para isso, recomenda estudar a melhor maneira de reeducar hábitos pensando em dinâmicas que estejam de acordo com o perfil de determinado cliente.


"Mostrar um vídeo erótico pode funcionar para alguém, mas não ser o mais adequado para outra pessoa", afirma ela.


Graça também administra com o marido, Paulo Tessarioli, o Instituto Casal Tessarioli, na zona oeste de São Paulo, onde atende 300 alunos. Com um quadro de 15 instrutores, o instituto vende cursos para consultoria em saúde e educação sexual, sexologia e terapia sexual.