Cinco meses depois, veja como estão os jogadores investigados e julgados no STJD por manipulação
A Operação Penalidade Máxima, que investiga a participação de jogadores e apostadores em um esquema de apostas esportivas no futebol brasileiro, completa cinco meses. O pontapé ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2023, quando foram iniciadas as investigações de diversos jogos tanto nas Série A e B do Campeonato Brasileiro do ano passado como de partidas de alguns estaduais da atual temporada.
Veja as situações das investigações realizadas pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e as penas já aplicadas.
A investigação foi deflagrada pelo Ministério Público de Goiás, onde surgiram as primeiras denúncias, envolvendo o Vila Nova. O primeiro jogador - tido como pivô do esquema - foi o meia Romário, eliminado do futebol após investigação. Além da exclusão, o jogador recebeu uma multa no valor de R$ 80 mil.
Segundo os promotores, o atleta recebeu dinheiro dos apostadores para cometer um pênalti contra o Sport, na última rodada da Série B de 2022, mas não foi relacionado para o jogo. Diante disso, Romário passou a procurar outros atletas para participarem da fraude.
Gabriel Domingos, ex-companheiro de Romário no clube goiano, teve punição de 720 dias de afastamento, além de R$ 80 mil de multa. Inicialmente, Gabriel teria apenas emprestado a conta bancária utilizada no repasse do dinheiro. Porém, o MP-GO afirmou ter concluído, com o aprofundamento das investigações, que o atleta tem envolvimento maior no caso. Os dois foram os primeiros atletas julgados e punidos por elo com o esquema de manipulação.
Eduardo Bauermann (ex-Santos e hoje no Alanyaspor, da Turquia)
O zagueiro ex-Santos foi talvez o principal jogador dentre os times grandes. De acordo com as investigações, o zagueiro aceitou R$ 50 mil para receber um cartão amarelo na partida contra o Avaí, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2022, mas não cumpriu a promessa e tinha de ser expulso diante do Botafogo, na rodada seguinte.
Como recebeu o cartão vermelho apenas depois do fim do jogo e algumas casas de apostas não contabilizam as advertências recebidas após o término da partida, Bauermann não fez o que havia combinado com os apostadores. Com isso, teve de devolver os R$ 50 mil, além de precisar recuperar todo o prejuízo dos envolvidos no esquema de apostas.
Por conta disso, inicialmente, Eduardo Bauermann foi suspenso por 12 jogos pelo STJD. Nesse intervalo, mesmo com toda investigação, o zagueiro foi anunciado como reforço pelo Alanyaspor, da Turquia, depois de rescindir com o Santos.
Entretanto, após recurso da procuradoria, o zagueiro pegou 360 dias de gancho e levou multa de R$ 35 mil em segunda instância. A justificativa dos votos dos auditores levou em conta também as regras da Fifa, que prevê, em seu regulamento, a existência de "crimes graves contra o esporte". A manipulação de jogos seria inclusa nesta regra e a pena poderia, então, ser estendida a nível mundial.
- Comunicamos o resultado do julgamento para a CBF e ela decidirá o que achar certo. Fica a critério da CBF a comunicação junto à Fifa - disse o presidente do STJD, José Perdiz, durante o julgamento do caso.
Isto porque a punição a Bauermann não vale fora do país, mas a CBF pode pedir para a Fifa espécie de internacionalização da pena ao jogador. O que o impediria de voltar a jogar por um ano.
Banimentos
Gabriel Tota é acusado de receber valores da quadrilha em sua conta bancária, que seriam repassados ao zagueiro Paulo Miranda, para que ele recebesse cartões amarelos em duas partidas do Juventude na Série A de 2022.
Conforme a investigação, a dupla teria até feito uma chamada de vídeo com Bruno Lopez, o chefe da quadrilha de apostadores, dentro do vestiário do Juventude antes de uma partida. Gabriel Tota, ex-Juventude e que estava emprestado ao Ypiranga de Erechim, foi eliminado do futebol e com multa de R$ 30 mil.
Já Paulo Miranda, de 35 anos, foi suspenso por 720 dias e multa de R$ 70 mil. O zagueiro teve a pena reduzida (antes era de 1.000 dias) com o argumento da defesa de que, com pena maiores, os seus clientes estariam aposentados de suas carreiras, o que não seria correto.
Além de Tota, Matheus Gomes (ex-Ipatinga) e Ygor Catatau (ex-Sampaio Correia) também foram excluídos do futebol. Para os auditores, além de se envolveram no esquema, os jogadores aliciaram outros atletas.
Apesar da decisão mantida em segunda instância, Ygor Catatau já teve o contrato rescindido anteriormente no Irã. Revelado pelo Madureira e com passagens pelo Vasco, o atacante atuava no Sepahan desde o início de 2023. Catatau foi identificado pelos auditores do tribunal como intermediário do grupo de cinco jogadores do Sampaio Corrêa - por onde atuava em 2022 - e que foram denunciados pela Procuradoria do STJD. Também levou multa de 70 mil reais.
Da mesma investigação envolvendo o Sampaio Corrêa, o STJD aplicou a pena de suspensão por 600 dias e multa de R$ 50 mil para o lateral Mateusinho (atualmente no Cuiabá, da Série A) e Paulo Sérgio (no Operário-PR). Os dois tiveram a multa reduzida em 120 dias e 20 mil reais, após recurso da defesa.
Em contrapartida, o atleta André Queixo que, no primeiro momento teve apenas multa financeira teve multa aumentada em segunda instância. O jogador, que hoje defende o clube Nam Dinh, do Vietnã, acabou com a pena de 600 dias de suspensão, além de manter os R$ 50 mil.
A diferença entre eliminação e banimento
A decisão por eliminação - casos dos jogadores Romário, Ygor Catatau, Gabriel Tota e Matheus Gomes - significa que existe a chance de o atleta voltar a jogar. Isto porque o CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) prevê que dois anos após a penalização o jogador pode recorrer pelo retorno às atividades em novo processo.
Bom esclarecer que para voltar ao esporte ele precisa ser julgado novamente (no caso, no STJD, órgão que lhe impôs a pena) e mostrar que merece os efeitos da reabilitação, com provas de que estava estudando ou trabalhando e três testemunhas a seu favor.
No outro caso, do banimento, é diferente. A punição é usada no doping e é considerada definitiva. O atleta fica sem poder praticar qualquer modalidade esportiva pelo resto da vida.
Resumo das penas:
Romário (ex-Vila Nova): eliminação e multa de R$ 80 mil
Gabriel Domingos (ex-Vila Nova): suspenso por 720 dias e multa de R$ 80 mil
Moraes (Aparecidense-GO): 720 dias e R$ 55 mil
Gabriel Tota (Ypiranga-RS): eliminação e R$ 30 mil
Paulo Miranda (sem clube): 720 dias e R$ 70 mil
Eduardo Bauermann (Alanyaspor, Turquia): 360 dias e R$ 35 mil
Matheus Gomes (sem clube): eliminação e R$ 10 mil
Fernando Neto (São Bernardo): 380 dias e R$ 15 mil
Kevin Lomónaco (Bragantino): 380 dias e R$ 25 mil
Ygor Catatau (ex-Sampaio Correa e sem clube): eliminado e R$ 70 mil
Mateusinho (ex-Sampaio Correa e hoje no Cuiabá): 600 dias e R$ 50 mil
Paulo Sérgio (ex-Sampaio Correa e hoje no Operário-PR): 600 dias e R$ 50 mil
André Queixo (ex-Sampaio Correa e Ituano e hoje no futebol vietnamita): 600 dias e R$ 50 mil
Igor Cariús (Sport): absolvido
Allan Godói (ex- Sampaio Correa e hoje no Operário-PR): absolvido
Ainda em primeira instância, após a decisão, o lateral-esquerdo exaltou o apoio da torcida e diretoria e desabafou: "Foram dias difíceis, em que eu e minha família sofremos diversos ataques por meio de redes sociais, chacotas". Vale lembrar que Igor havia sido suspenso, de forma preventiva, por 30 dias, mas foi liberado pela CBF para voltar a jogar pelo Sport.
Absolvidos
Igor Cariús, ex-Cuiabá e atualmente no Sport, teve a denúncia rejeitada. Os advogados do atleta contestaram as provas apresentadas pelo MP-GO para terem efeito no julgamento desportivo e tiveram o pleito acatado.
O zagueiro Allan Godói, ex-jogador do Sampaio Corrêa e hoje no Operário (PR), também foi absolvido, sendo o único dos jogadores denunciados do time maranhense. Os auditores do STJD também consideraram as provas contra o jogador insuficientes para apontá-lo como participante do esquema. O zagueiro também voltou a atuar no time paranaense, pela Série C.
Outros casos investigados: Campeonatos Estaduais
Outro caso de manipulação aconteceu no campeonato tocantinense. Em abril, o Tocantins de Miracema foi suspenso por 450 dias e multado em R$ 10 mil ao ser acusado de manipulação de resultado. O motivo? A derrota por 6 a 0 para o Tocantinópolis, que aconteceu em 12 de fevereiro, pela terceira rodada do estadual.
No Amazonas, o Iranduba foi punido inicialmente por 900 dias e multa de R$ 200 mil por suspeita de manipulação de resultados estadual deste ano. A medida foi tomada pelo presidente da Federação Amazonense de Futebol, Ednaílson Rozenha, após fortes indícios de manipulação de resultados na derrota do clube por 7 a 0 para o Amazonas.
Em ambos os casos, a denúncia consiste em documento da Sportradar, empresa suíça que analisa risco de fraude em apostas esportivas. No início de junho, o Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) manteve a absolvição do Tocantins de Miracema, e adiou a sentença do Iranduba.