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Brasileira é a mulher por trás da febre do copo Stanley no país; conheça

Por Marie Clarie 15/01/2024 16h04 - Atualizado em 15/01/2024 16h04
Andrea Martins, presidente da PMI Worldwide na América Latina, Europa, África e Oriente Médio - Foto: Foto: Divulgação

Andrea Martins tinha 34 anos quando desembarcou no Equador para assumir a presidência da Kraft Foods no país, empresa que, até então, nunca tinha tido uma mulher no cargo. Sentada em uma mesa com mais sete executivos, ouviu de um deles: “Não imaginei que você pudesse ser tão novinha assim. O que você fez para chegar até aqui?” Depois do baque inicial, olhou para o tal diretor e falou: “Se você quiser, posso passar a tarde inteira te contando a minha trajetória. Aí você decide se valeu a pena ou não”. Enquanto narra o episódio, ela parece reviver a situação. “Fiquei mal uma semana, me senti violentada”, relembra.

Antes de ingressar no mundo corporativo, conforme conta, Andrea não tinha sentido nenhum tipo de barreira ligada a gênero. “Nunca precisei ser feminista porque nunca me vi diferente e nunca fui incentivada por ser diferente. Até viver essas situações reais”, diz. Em outra ocasião, não foi nem sequer considerada para uma posição à qual tinha total competência para se candidatar. “Fui vista como a menina lá da América Latina, sabe?”

Hoje, essa região do continente americano é somente uma das quatro que estão sob seu comando na posição de presidente da PMI Worldwide América Latina, Europa, Oriente Médio e África, empresa norte-americana líder mundial na fabricação, comercialização e soluções para alimentos e bebidas. Logo que assumiu o cargo, no fim de 2019, mostrou a que veio, trazendo para o Brasil o copo Stanley, produto premium da empresa criado 110 anos atrás.

Você pode nunca ter ouvido falar, mas é provável que já tenha visto por aí: o copo térmico se tornou queridinho nos últimos anos, pois sua tecnologia permite que a cerveja não esquente – e o café não esfrie.

Copo Stanley pode ser usado com ou sem tampa para bebidas geladas e quentes — Foto: Divulgação

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“Eu tinha 16 anos de experiência na indústria alimentícia [Kraft Foods Equador, Mondelez, Camil Alimentos]. Olhei o portfólio da companhia e falei: “Vocês sabiam que o mercado brasileiro é o terceiro maior do mundo em cerveja, que a temperatura média no país é 30 graus e que os brasileiros só tomam cerveja gelada?”, conta. “Virou febre e crescemos 700% com o lançamento da marca na América Latina. O produto era muito pouco explorado aqui”, diz.

Segundo a executiva, no Brasil, o setor de produtos térmicos vendia de 30 milhões a 35 milhões de unidades ao ano e, hoje, esse número triplicou – além do copo Stanley, a marca fabrica a garrafa Aladdin, a número dois da marca.

Andrea não tem vergonha de assumir que é uma marqueteira nata e costuma dizer que esse traço de sua personalidade está no DNA. “Construir em três anos uma marca que não era nada no Brasil e hoje tem 70% de conhecimento por parte do consumidor me realiza demais. E isso tem muito a ver com a relação humana, porque você só constrói uma marca relevante para o consumidor quando faz a diferença na vida deles”, acredita. O mais recente lançamento a chegar ao país é o Quencher 2.0., modelo com capacidade para suportar bebidas frias por até 11 horas e as quentes por até sete.

Ao passo em que agrega valor às marcas que comanda – Andrea já ocupou posições de liderança na área da construção, de higiene pessoal e alimentos, a exemplo da Deca, Mondelez, Camil Alimentos e BDF Nivea –, ela vem construindo ambientes mais igualitários nas empresas por onde passa. “Sou pela equidade, chances iguais e, acima de tudo, pelo resultado final, que é a diversidade. Nesse sentido, sou muito feminista”, pontua.

Tampouco assumiu como presidente da PMI Worldwide e iniciou uma mudança estrutural na companhia. “Eu tinha uma vaga na diretoria comercial e falei para o headhunter: ‘Vou contratar quem for mais competente, seja homem ou mulher. Mas quero que você me apresente, pelo menos, 50% de currículos de candidatas mulheres. Dentre os dez primeiros CVs que ele entregou, só um era de mulher”, conta. “Eu disse: ‘Não vou ler nenhum, acho que você não entendeu’. Hoje tenho uma diretora comercial maravilhosa. Se contratei por que era mulher? Não, mas fui intencional em todo o processo.”

Intenção

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Durante seus quase 30 anos no mundo corporativo, Andrea conta que viu muitas mulheres desistir de alçar voos altos antes mesmo de tentar. “Acho que temos muito a caminhar ainda. Houve uma evolução e mais mulheres estão conseguindo quebrar as barreiras, mas acho que não é só uma questão de ter a oportunidade, elas têm que estar a fim, essa é uma parte importante. Tem a ver se você está pronta, para o que você se preparou e o que faz sentido como mulher. Precisamos ser verdadeiras com nós mesmas e sermos intencionais, as coisas não acontecem por acaso”, acredita.

“E a rede de apoio é fundamental para que elas tenham a tranquilidade de saber que todo o resto está endereçado.” Formada em Marketing na ESPM, Andrea entrou em contato com o mundo corporativo na Procter & Gamble, quando ainda cursava a faculdade, que passou a ser subsidiada pela empresa. “Nunca planejei a minha carreira, só planejei fazer o melhor que podia com os recursos que tinha em mãos. Pensava: ‘O que faria diferente do que fiz até agora para conseguir somar aquilo que estou construindo?’.” E continua: “Sou muito intensa, perfeccionista, faço as coisas acontecer e tenho drive para resultado. Além de uma curiosidade infindável. Nunca estou tranquila na zona de conforto”, diz.

Legado feminista

Nascida em São Paulo, Andrea cresceu tendo como referência um de seus meios-irmãos, 30 anos mais velho, que a acolheu depois da morte de seu pai, quando ela tinha 14 anos. Filha de pais mais velhos – um ex-militar e uma dona de casa –, Andrea nasceu quando ele tinha 62 anos, e ela, 40. “Esse meu irmão construiu sozinho um império no setor siderúrgico. Nas férias, ele me chamava para trabalhar na empresa, assim como fazia com os filhos dele. Comecei como telefonista, passei pela contabilidade. E isso teve um peso grande na minha infância. Meus pais não tinham condições de me mandar para viagens, mas ele me levava para esquiar nas férias com a família dele, me pagou um ano de estudos fora do Brasil para eu aprender inglês”, relembra. Mais tarde, Andrea também ganhou dele um curso de administração na Yale Executive Business School, nos Estados Unidos.

Mal sabia naquela época que viajar o mundo faria parte de sua rotina. Casada há 23 anos, a executiva reconhece a parceria do marido, que topou encarar todas as mudanças de vida em prol do trabalho dela. “Quando fomos para o Equador, ele estava em uma multinacional havia dez anos. Mas teve maturidade para enxergar que meu passo de carreira levaria a família mais longe e pediu demissão”, conta.

Mãe de Beatriz, de 15 anos, e Victoria, 18, as meninas cresceram mudando de casa e de rotina, a exemplo dos quase três anos em que viveram em Quito, capital equatoriana – no Brasil, moraram em São Paulo, Recife e no Rio de Janeiro. “Me sinto recompensada quando vejo minhas filhas, quase jovens adultas, saberem que elas podem tudo. Essa é a maior gratificação que existe. Sou feliz profissionalmente, mas meu trabalho serviu mesmo até aqui para elas saberem que podem chegar aonde quiserem”, finaliza.