Torcedor do Flamengo acusado de arremessar garrafa que matou palmeirense irá a júri popular em SP
O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu nesta sexta-feira (23) que o torcedor do Flamengo acusado de arremessar a garrafa de vidro que acertou e matou a palmeirense Gabriella Anelli, em julho de 2023, será julgado por um júri popular na capital paulista.
Jonathan Messias Santos da Silva foi detido no Rio de Janeiro em 25 de julho do ano passado. Apontado como autor do crime, ele é servidor concursado da Prefeitura do Rio e atuava como diretor e professor de uma escola na Zona Oeste da capital carioca, desde 2019.
Na decisão desta sexta, a juíza Marcela Raia de Sant’Anna optou ainda por manter a prisão preventiva de Jonathan.
"Mantenho a prisão do réu, negando-lhe o direito de recorrer em liberdade, pois os motivos que ensejaram a decretação da prisão preventiva ainda persistem e são reforçados com a presente decisão de pronúncia", afirmou a juíza.
A data do julgamento ainda será marcada.
Reconstituição do crime
O Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo fez uma perícia em 3D, obtida com exclusividade pelo g1, para reproduzir virtualmente a confusão no entorno do Allianz Parque que resultou na morte de Gabriella.
A partir da simulação, a polícia reforçou a acusação contra o torcedor do Flamengo, que está preso em São Paulo.
Segundo peritos, o resultado da reprodução em 3D deixou mais "robusta" a possibilidade de que Jonathan tenha arremessado o objeto que provocou ferimentos em Gabriella. Para a análise, foi feito um escaneamento do local com um aparelho de tecnologia a laser.
Em nota enviada ao g1 sobre a reconstituição do crime, o advogado de Jonathan disse que o cliente é inocente e que o processo criminal está em fase de alegações finais, "ainda sem qualquer decisão definitiva acerca da pronúncia ou não de Jonathan". (íntegra abaixo)
Um drone também foi utilizado para capturar imagens áreas que, somados, deram precisão à área reproduzida. Também foram inseridos personagens representados por avatares na reprodução.
A equipe complementou a apuração com um registro em vídeo que mostra o rastro de uma garrafa arremessada por Jonathan, que passou pelo portão que dividia as duas torcidas e gerou um "estampido", ou seja, um estrondo, segundo o IC.
A trajetória do objeto alcançou a torcida do Palmeiras no sentido de três torcedores, sendo um deles Gabriella.
De acordo com a conclusão e as considerações dos peritos, as imagens no vídeo "robustecem a possibilidade" de que Jonathan teria lançado a garrafa que feriu um torcedor e causou o corte na região do pescoço que matou Gabriella.
Jonathan estava em um ambiente "propício para a visualização de diversas pessoas à sua frente, seja pelo lado da torcida do Flamengo, seja pelo lado da torcida do Palmeiras. Tais pessoas tratava-se de Guardas Civis Metropolitanos, uma fiscal e torcedores palmeirenses";
"O lançamento do objeto foi realizado em direção à abertura das chapas metálicas mesmo havendo condições de visualização de Guardas Civis Metropolitanos e de demais populares em meio à trajetória que viria a desenvolver";
O vão do portão era de aproximadamente 70 cm e estava a uma distância aproximada de 3,15 metros de Jonathan no momento do lançamento da garrafa.
No entanto, segundo o laudo, a interpretação pericial deve ser confrontada com outros elementos, como o laudo do Instituto Médico Legal (IML) e depoimentos colhidos pela polícia. O IML apontou morte em decorrência de ação "vulnerante de agente corto-contundente".
Gabriella chegou a ser internada, mas não resistiu ao corte no pescoço. A defesa de Jonathan não foi localizada até a última atualização desta reportagem.
Em 14 de agosto, ele foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio, virou réu no mesmo dia e teve a prisão preventiva decretada.
O que diz a defesa do homem
"Por sua vez, A testemunha de acusação arrolada pelo Ministério Público de São Paulo, Sr. Yuri Batista, declarou em juízo, sob o crivo do contraditório e da plenitude de defesa, que não foi meu cliente o responsável pela morte acidental de sua amiga.
Com isso, ele afirma categoricamente em juízo que não foi o meu cliente o culpado pela morte infeliz e acidental de sua amiga no Estádio, apontando ainda como suposto autor outro indivíduo.
Ademais, o laudo já juntado só aponta hipóteses e possibilidades, não apresentando uma certeza quanto à autoria de meu cliente, já que se baseia em vídeos editados e sem qualquer identificação de sua fonte ou origem.
Portanto, sigo confiante nas provas testemunhais produzidas em juízo, estando certo da inocência do meu cliente e aguardando o julgamento definitivo do Habeas Corpus no Superior Tribunal de Justiça".