Historiador com mais de 60 anos dedicados ao futebol de Arapiraca, Paulo Lima é homenageado pela FAF
A Federação Alagoana de Futebol (FAF) prestou, neste sábado (30), uma homenagem ao historiador e arquivista Paulo Lima, de 74 anos, pelos mais de 60 anos de trabalho dedicados à memória do futebol em Arapiraca, Agreste do Estado, em especial ao time do ASA.
Antes da primeira partida da final do Campeonato Alagoano é Massa 2024, entre ASA e CRB, em Arapiraca, Paulo Lima recebeu o troféu “Craque da História” e se tornou sócio benemérito da Associação dos Cronistas Desportivos de Alagoas (ACEA).
Lima é conhecido por guardar anotações sobre o ASA há seis décadas. São mais de 150 cadernos preenchidos com fotos e fatos históricos, contados passo a passo, sejam com os artilheiros, as escalações, os gols ou as partidas. E é da escadaria que liga os vestiários dos árbitros ao gramado do Coaracy da Mata Fonseca, que Paulo Lima, ao lado do seu tradicional rádio de pilha, acompanha os jogos e faz as anotações.
“A FAF, em nome do presidente Felipe Feijó, agradece muito sua história, a herança que o senhor vai deixar e o legado aqui no Estádio Coaracy da Mata Fonseca. Muito obrigado por tudo, afirmou Rodrigo Lú, Gerente de Competições da FAF, ao entregar o troféu “Craque da História” a Paulo Lima.
Emocionado, Paulo Lima agradeceu a homenagem.
“Nelson Gonçalves sempre dizia: as homenagens devem ser prestadas em vida. Depois de morto, não adianta mais. Eu acompanho a história do ASA há mais de 60 anos e estou muito feliz com esse reconhecimento’’, disse Paulo Lima.
O Secretário de Esportes de Arapiraca, Josenildo Souza, também destacou a justa homenagem ao historiador.
“É uma grande homenagem e um reconhecimento puro para uma pessoa que vivia aqui esse ambiente do estádio da época que não tinha grama. Paulo Lima faz parte da história do municipal. Estamos felizes e gratos à FAF por essa iniciativa” disse Josenildo.
A história de Paulo Lima por jornal “Golaço”. Confira abaixo na íntegra:
Pouca gente sabe, mas a história da Agremiação Sportiva Arapiraquense (ASA) só foi salva por conta de registros de um dos maiores memorialistas de Alagoas: Paulo Lima. Torcedor do ASA e filho da terra, Paulo faz jus à cidade, com uma história que se confunde com a do próprio Alvinegro, o maior chamariz de Arapiraca por bons anos.
Paulo nasceu no dia 7 de janeiro de 1950. Pouco mais de dois anos depois, surgia o Fantasma das Alagoas, que no dia 25 de setembro de 1952 foi fundado como Associação Sportiva de Arapiraca. Crescendo juntos, de um lado o ASA começou a trilhar suas glórias, enquanto o pesquisador via de perto este crescimento.
Paulo, em dia de jogo, não tem outra programação: caneta na mão, um caderninho e diversas anotações para se juntarem ao gigantesco acervo pessoal. Paulo guarda anotações sobre o ASA há 60 anos. São mais de 150 cadernos preenchidos com fotos e fatos históricos, contados passo a passo, sejam com os artilheiros, as escalações, os gols ou as partidas. Além, claro, de uma relação de amor que se iniciou em 1964, quando o ainda adolescente espiou o Fantasma vencer o CSA, por 4 a 3, no Fumeirão.
Porém, não foi logo de cara que Paulo começou a preencher seus cadernos. Torcedor do São Paulo, mudou-se para a capital paulista em 1971. Lá, começou anotando as partidas do Tricolor, até que ouviu praticamente um chamado superior pelas ondas da rádio paulistana. “Eu morei de 1971 até 1980 em São Paulo. Fazia todos os jogos do São Paulo, anotava tudinho. Por mera coincidência, naquela época eu tive a oportunidade de ouvir um senhor que era de Palmeira dos Índios, na Rádio Bandeirantes. Ele passava todos os dados do Campeonato Alagoano e eu anotava, relembrando o ASA”.
Paulo Lima, então, retornou para a terra natal. Já em casa, dividia-se entre o trabalho de serviços gerais e a preocupação de anotar jogo por jogo do seu time, que àquela altura ainda se firmava como um dos principais expoentes do Nordeste.
Porém, para montar um arquivo tão grande, ele precisou de ajuda. O tempo distante do clube do coração o fez recorrer a diversas pessoas, que se tornaram amigos pessoais e elos importantes para a construção do arquivo.
“A partir de 1987, procurei algumas pessoas, como o Zezinho. Ele tinha oito tabelas de campeonatos e me emprestou. Assim, consegui fazer parte desse trabalho. Tinha muitas fotos. O doutor Fernando Rodrigues também foi muito importante e saí montando os quebra-cabeças. Tive a oportunidade de conhecer Walter Luís e Lauthenay Perdigão. Todas essas
pessoas colaboraram muito para eu ter esses jogos todos do ASA”.
O acervo de Paulo conta com mais de 100 fotos de praticamente todas as temporadas desde a década de 1960. Todos os números e escalações estão devidamente guardados a sete chaves pelo arquivista. Com tantas idas e vindas de atletas, três marcaram o coração do memorialista.
“Este homem [Acebílio] nunca levou um cartão vermelho e nunca levou um cartão amarelo. Outro jogador que admiro, sempre foi e sempre será o artilheiro do ASA: Freitas Nascimento. O último jogou 153 vezes e não levou um cartão amarelo sequer. Já foi treinador, jogador, o Jota. Só foi expulso em um jogo da Série B. Eu passei os números para ele e o parabenizei”.
No momento, Paulo Lima enfrenta uma batalha pessoal, em meio ao dia a dia como arquivista. Mas isso não o impede de estar no Fumeirão em todos os jogos. O atual objetivo é o lançamento de um livro que reunirá boa parte do material guardado em todos esses anos. O manuscrito ainda não tem um título e o pesquisador busca ajuda para lançá-lo.
Enquanto o livro não sai, Paulo segue guardando com carinho cada palavra de suas pesquisas, trazidas de todo o Brasil. Mas, pelo menos até o momento, ele quer guardar um segredo: “Só não passo de jeito nenhum, para ninguém, os jogadores que fizeram os gols do ASA nesse período [risos]”. E não dá para pensar no ASA, sem lembrar de Paulo Lima. O elo entre clube e torcedor não se limita apenas às suas anotações. Paulo chegou até mesmo a ser uma peça importante na campanha que rendeu o título do Campeonato Alagoano de 1953 para o Alvinegro, depois de anos de luta.
Na época, o Estadual era dividido em dois campeonatos. O primeiro, disputado entre os times de Maceió. O segundo, entre equipes do interior. No fim, o regulamento previa um duelo entre os campeões de cada zona. Pois bem, no interior o ASA foi campeão, enquanto na capital o Ferroviário ficou com a taça. Durante muitos anos, o clube da capital foi reconhecido como único campeão, enquanto o Fantasma ficou com as mãos abanando.
Mas isso mudou quando Paulo Lima, Lauthenay Perdigão e Rodrigues de Gouveia entraram em campo com suas pesquisas.
“O título estava no poder do Ferroviário. Mas através de pesquisas, o ASA conseguiu adquirir o título para si. O ASA só conseguiu isso através de um programa grande, realizado entre eu, Lauthenay e o seu Rodrigues, que fez as tabelas daquele campeonato. Assim, começamos nosso trabalho e conseguimos o reconhecimento junto à Federação”.
O final foi feliz. O ASA foi declarado campeão da edição, pois o Ferrinho não quis entrar em campo nas que seriam as grandes finais. Ou seja, Paulo Lima é, além de tudo, um campeão pelo Gigante.