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Estudo associa condições sociais e econômicas à altura da população

Por Ascom Ufal 01/07/2024 08h08
Professor da UFAL, Haroldo Ferreira - Foto: Assessoria

O que determina a altura de um indivíduo? Os fatores genéticos são predominantes ou aspectos sociais e econômicos são capazes de influenciar o crescimento da população? Um grupo de pesquisadores vinculados à Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) respondeu a esses questionamentos, após a análise de um banco de dados de mais de três mil pessoas que ocupam os mais diversos níveis sociais.

O levantamento mostrou que aspectos socioeconômicos determinantes interferem de forma importante no potencial de crescimento do indivíduo e, consequentemente, na média de altura de uma população. A pesquisa desenvolvida em Alagoas foi liderada pelo professor Haroldo Ferreira, com a participação da doutoranda Tamara Rodrigues dos Santos, e contou com a participação de 3.136 pessoas. O estudo mais recente foi publicado pela revista Nature e integra os bancos de dados de cientistas de 194 países.

“O artigo ‘Diminishing benefits of urban living for children and adolescents growth and development’, publicado pela Nature, é uma metanálise baseada em 2.325 estudos de base populacional, com 71 milhões de participantes de 194 países. Nossa contribuição se deu por meio do estudo denominado 2º Diagnóstico de Saúde da População Materno-Infantil do Estado de Alagoas, com 3.136 participantes”, explicou Haroldo Ferreira.

O professor e pesquisador vem desenvolvendo investigações sobre a influência dos aspectos sociais e econômicos na altura da população desde o ano de 2005, com a criação de um banco de dados embasado em diversos cenários, como populações quilombolas, os sem-teto, os sem-terra, população do semiárido e população em geral. Os dados servem para traçar um perfil das condições de alimentação, nutrição e segurança alimentar brasileiro.

“Em 2007, nós sintetizamos informações que tínhamos e notamos que as mulheres alagoanas, por exemplo, eram cerca de 7cm menores que as mulheres do Sul do Brasil e que as mulheres do Sul do Brasil eram 7cm menores que as americanas. Ou seja, havia, em 2007, uma diferença de aproximadamente 14 cm entre as mulheres do Nordeste do Brasil e as mulheres americanas”, revelou o professor Haroldo Ferreira.

De acordo com ele, em cada inquérito, para que as amostras sejam representativas, são investigadas no mínimo 1.300 pessoas. “Quando a gente faz o plano amostral, tem que haver, pelo menos, 1.300 indivíduos. No entanto, o último que fizemos sobre insegurança alimentar em Alagoas contou com uma amostra aleatória formada por 3.600 mulheres dos mais diferentes locais do estado”, pontuou o pesquisador.

Haroldo Ferreira explica que, até os anos de 1970, acreditava-se que os aspectos genéticos exerciam influência determinante na altura da população. No entanto, ao longo dos anos, diversos estudos realizados no Brasil e no mundo comprovaram que as condições ambientais, particularmente as condições de alimentação, nutrição e saúde, são imprescindíveis para que o potencial genético de crescimento em plenitude.

“Em 1970, um pediatra chamado Eduardo Marcondes criou uma curva brasileira, que ele chamou de ‘Curva de Santo André’, acreditando que fatos genéticos eram determinantes. Curiosamente o tiro saiu pela culatra. O que ele constatou, quando estratificou em quatro faixas socioeconômicas, foi que, no nível quatro, ou seja, as crianças de famílias com renda mais elevada, não tinham qualquer diferença do padrão americano”, revelou.

E acrescenta: “Quando a criança recebe todo o aporte nutricional e de atenção à saúde, ela cresce dentro da mesma perspectiva. Existem as diferenças individuais, claro, que a gente coloca em curva e sabe se está compatível com a população saudável ou não. Em síntese, as diferenças em estatura entre populações das diferentes regiões do mundo são muito mais determinadas pelas questões socioeconômicas do que por questões genéticas”.

Mas, como garantir que a população, em especial as crianças, recebam o devido apoio nutricional para que possam se desenvolver? A resposta para essa pergunta está na criação de políticas públicas eficazes, que alcancem, sobretudo, a população mais carente. Haroldo Ferreira, no entanto, ressalta que essas políticas são complexas e que um trabalho mais efetivo neste sentido ainda está longe da realidade brasileira.

“As políticas são complexas. O que é efetivo é tirar as pessoas da miséria. Quando começa a se trabalhar nesse sentido, começam a trabalhar com questões paliativas. Houve no Brasil, há alguns anos, uma ênfase na multimistura, que era o aproveitamento de itens que normalmente não fazem parte da alimentação, voltadas para pessoas que não têm acesso a uma alimentação saudável por questões financeiras. É basicamente aproveitar o que não serve para quem tem dinheiro. Sempre me posicionei contra isso”, ponderou.

Para Haroldo, somente a garantia de uma alimentação de qualidade é capaz de assegurar o crescimento e o desenvolvimento adequados. “O que a gente acha é que todas as pessoas devem ter acesso físico e financeiro a uma alimentação saudável, que é aquela que fornece os nutrientes necessários para o seu adequado crescimento e desenvolvimento, inclusive em termos energéticos, e está isenta de contaminantes físicos, químicos ou biológicos que podem prejudicar sua saúde”, observou o professor e pesquisador.

Atualmente, o grupo de pesquisa liderado pelo professor vem se dedicando a uma investigação sobre nutrição, saúde e segurança alimentar na população indígena do estado. O levantamento – que é desenvolvido na modalidade Estágio Pós-doutoral – é realizado pela pós-doutoranda Tamara Rodrigues dos Santos, sob a supervisão de Haroldo Ferreira. Os dados devem apresentar um panorama do estado nutricional dessa população.

“O ensaio tem por objetivo investigar as condições de nutrição, saúde e segurança alimentar dos povos indígenas no estado. Entre os objetivos específicos está a identificação de condições socioeconômicas e de insegurança alimentar das famílias. No que diz respeito ao público infantil, temos como objetivo a determinação do estado nutricional e as práticas de aleitamento em crianças menores de dois anos”, explicou Tamara Rodrigues Santos.

A pós-doutoranda conclui que: “Esses dados vão possibilitar analisar os impactos dessas condições socioeconômicas sobre o estado nutricional e de saúde dessas crianças, os quais repercutem diretamente no seu crescimento, tendo impacto ao longo da vida, possibilitando ao poder público planejar e implementar programas específicos de promoção da saúde e qualidade de vida articulados com as reais necessidades desse público”.