'Viagra feminino': novos produtos focam na libido das mulheres
Quando o Viagra chegou às prateleiras, em 1998, promoveu uma verdadeira transformação no tratamento de disfunção erétil masculina. Enquanto isso, as mulheres ficaram à margem dessa revolução sexual. Foi só recentemente que o mercado de bem-estar passou a olhar com mais atenção para esse público, investindo em mais estudos voltados para a sexualidade das mulheres e chegando a alternativas com foco em aumentar a libido feminina. Exemplo disso é o lançamento da startup norte-americana Hello Cake, fundada em 2018. Especializada na categoria de sexual wellness, a empresa acaba de lançar dois produtos que prometem estimular o desejo sexual feminino: um comprimido e um creme tópico formulado para aumentar o fluxo sanguíneo e a sensibilidade vaginal. O creme, chamado O-Cream, contém sildenafil, o mesmo princípio ativo encontrado no Viagra.
Quais são as alternativas para enfrentar a menopausa além da reposição hormonal? "Sempre foi um tabu imenso falar sobre sexualidade feminina. Agora que esse mercado vem ganhando mais espaço, conseguimos buscar alternativas que vão além da terapia sexual e até mesmo dos brinquedos sexuais", afirma Flavia Semighini, coordenadora de Inovação e Desenvolvimento da Galena Farmacêutica.
Os números comprovam um interesse ascendente no setor: o mercado dem-estar nos EUA tem um valor estimado de 480 bilhões de dólares, com uma projeção de crescimento de 5 a 10% anualmente, de acordo com uma pesquisa da McKinsey. A saúde da mulher está na vanguarda dessa expansão — os produtos de saúde sexual foram a segunda categoria mais comprada em 2023, atrás apenas dos itens para cuidados menstruais.
O desenvolvimento desses produtos está alinhado ao reconhecimento de que a libido feminina é influenciada por uma combinação de fatores físicos, emocionais e sociais. "A libido feminina não é linear; ela depende de vários aspectos para ser saudável. O trabalho do profissional de saúde é acessar todas essas 'caixinhas' — hormonais, sociais, orgânicas — para ajudar o paciente a chegar a uma libido satisfatória. Não existe uma pílula mágica", explica Juliana Sperandio, médica ginecologista da clínica Oya Care.
"Antes de tudo, é preciso entender qual é o ponto que está incomodando naquele momento. É uma questão de autoimagem? É o relacionamento amoroso? É a carga excessiva de trabalho, com dupla, tripla jornada? Também podem ser fatores físicos, ligados a doenças como endometriose e infecções vaginais; fatores hormonais, como o hipotireoidismo e a menopausa; o uso de medicações, como antidepressivos; além de fatores psicológicos", pontua a médica.
"É importante normalizar o fato de que a libido não é sempre 100% alta. Ela flutua muito ao longo do ciclo menstrual: na primeira fase, quando estamos ovulando, temos mais libido, depois ela cai. A base de comparação deve ser sempre com nós mesmas, e não com as pessoas ao lado. Temos que tirar um pouco dessa carga de que as pessoas com útero que secretam estrogênio têm que estar sempre com vontade a todo momento".
Ainda que a ciência ainda esteja em seus estágios iniciais no que diz respeito aos tratamentos para disfunção sexual feminina, as novas opções disponíveis mostram um panorama promissor para a sexualidade das mulheres. Juliana Sperandio destaca um ingrediente que merece atenção pelo potencial de melhorar o desejo sexual: a oxitocina. "Conhecida como o 'hormônio do prazer', a oxitocina — liberada inclusive durante a relação sexual — apresenta bons resultados para pacientes na menopausa que apresentam queda de libido. Nesse estudo, o uso local na região da vagina aumentou o desejo sexual, a lubrificação e a satisfação sexual".
Já o tadalafil, presente no Viagra, ainda não foi amplamente estudado para o público feminino, como alerta a ginecologista. "Como ele aumenta a vasodilatação, aumenta o aporte de sangue na região — o que é necessário para que a mulher chegue ao orgasmo. Mas, aqui, estamos falando do orgasmo, e não do desejo em si", relata. Há ainda a ressalva de que, por via oral, esse ativo aumenta o calibre dos vasos do corpo inteiro, o que pode causar efeitos colaterais, como a queda da pressão arterial. "Precisamos de mais pesquisas para garantir sua segurança para as mulheres", completa Juliana.
Por enquanto, podemos acessar outras linhas de tratamento, que vão da fitoterapia à reposição hormonal. "Já existem estudos que comprovam que a terapia de reposição hormonal com estrogênio e, eventualmente, testosterona pode melhorar a libido de pacientes na menopausa", diz a médica.
A fitoterapia, que envolve suplementos com substâncias de origem natural, também mostra um crescimento entre o público feminino. "Esses produtos estão cada vez mais acessíveis, podendo ser encontrados em farmácias de manipulação, por exemplo. Vale procurar ingredientes como extrato de planta damiana, que pode melhorar a libido, e extrato de jambu, usado para um efeito vibratório em lubrificantes íntimos. É algo que faz cada vez mais sentido à medida em que as mulheres que compreendem como a sexualidade é parte fundamental de uma rotina saudável", avalia Flavia Semighini.
A ginecologista Juliana Sperandio ressalta ainda a maca peruana, outro componente natural que pode auxiliar no aumento do apetite sexual. "Manter um estilo de vida saudável, com exercícios físicos e alimentos que estimulam os neurotransmissores [como cereais integrais, leguminosas. oleaginosas e carnes magras] também fazem toda a diferença para estimular a testosterona e a libido.
Com mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a expectativa é que, em um futuro breve, novas alternativas apareçam e se tornem mais acessíveis, fortalecendo não só a sexualidade feminina, mas a autoestima, o conhecimento do próprio corpo e do que desperta seus sentidos, desejos e estímulos.