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Por que o litoral do Piauí foi tomado por milhares de caravelas-portuguesas?

Por Redação, com g1 Piauí 23/09/2024 08h08
Caravelas - Foto: Luís Gustavo Graça/TV Clube

Mais de 40 pessoas, incluindo crianças e adultos, sofreram queimaduras causadas por caravelas-portuguesas nas praias de Luís Correia, no Piauí, no último final de semana, quando milhares delas cobriram a faixa de areia.

Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade, foram registrados 32 atendimentos no sábado (21), e mais de 15 no domingo (22), de banhistas relatando queimaduras provocadas pelas caravelas.

Elas são formadas por duas partes: uma com os longos tentáculos e outra parte que flutua. São pequenas bexigas que ficam na superfície da água, e são empurradas pelo vento, como os barcos que lhe deram nome, enquanto os tentáculos ficam afundados na água.

Apesar da beleza, essa espécie marinha é uma das mais perigosas presentes no Brasil, e também a que causa mais acidentes quando banhistas tocam nos tentáculos, que possuem veneno.

O veneno da caravela-portuguesa fica concentrado nos tentáculos do animal. E o contato com a pele humana provoca dores muito fortes, queimaduras que podem ser até de terceiro grau, que se assemelham a marcas de chicotes.

Quando chega à areia, as caravelas morrem. Mas atenção: mesmo assim elas continuam causando queimaduras.

Em casos mais extremos, a toxina causa reações alérgicas graves acompanhadas de arritmias cardíacas e náuseas.

Segundo a bióloga Liliana Souza, o aparecimento das caravelas-portuguesas nas praias do Piauí é comum nesta época do ano, mas não essa quantidade. Para ela, o caso pode ser resultado das mudanças climáticas e da poluição (entenda abaixo).

Por que tantas caravelas apareceram no Piauí?

Mais de 40 pessoas foram vítimas de queimadura por águas-vivas do tipo caravela-portuguesa no litoral em 24 horas
A bióloga Liliane Souza explicou ao g1 que o surgimento desses animais nas praias é comum todos os anos, nessa mesma época. Mas não na quantidade vista nos últimos dias.

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Segundo ela, as mudanças climáticas, que elevaram a temperatura da água do mar, podem ter aumentado a reprodução das caravelas, causando a formação de uma grande população.

"Estamos vivendo uma crise climática, que 'favorece' algumas situações dessas. No período reprodutivo, a temperatura mais alta das águas intensifica a reprodução", explicou.

Outro fenômeno que contribuiu foram os fortes ventos que atingiram a região nos últimos dias, e causaram uma ressaca na última terça-feira (17), quando mais de 15 barracas foram destruídas pelas ondas.

Liliana explicou que o avanço da maré sofre influência da lua, mas também é consequência da intervenção humana na natureza.

"A erosão marinha, que causa esse intenso avanço, ocorre em virtude da retirada da vegetação costeira e a ocupação irregular. A praia está na foz de um estuário, e isso aumenta a ação da natureza", disse a bióloga.

O que fazer em caso de queimaduras?

A primeira orientação em caso de queimaduras causadas por caravelas-portuguesas é lavar o local do ferimento com água do mar, e nunca usar água doce na queimadura, bem como "receitas" alternativas mais conhecidas, como urina ou café.

Veja abaixo a lista de orientações, da bióloga Liliane Souza:

- Lavar o local abundantemente com água do mar;
- Nunca lavar com água doce;
- Não esfregar (risco de espalhar a toxina e aumentar o tamanho da lesão);
- Usar um objeto para retirar com muito cuidado os tentáculos que ficarem presos à pele, como uma pinça, um palito de picolé ou um cartão;
- Levar para casa uma garrafa com água do mar, para continuar lavando o local.

Equipes do Corpo de Bombeiros estão nas praias de Atalaia, Coqueiro, Peito de Moça, Itaqui, Arrombado, Carnaubinha, Maramar e Macapá para alertar as pessoas e os donos de barracas da situação.

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De acordo com a técnica de enfermagem Jaquelline Soares, do Samu, esses animais estão tanto dentro da água quanto na areia da praia, devido a isso é preciso atenção e cuidado. Ela usou as redes sociais para pedir que os banhistas fiquem longe das praias.

"Passando aqui para dar um alerta ao papais, mamães, turistas, banhistas, donos de bares do nosso litoral, que evitem o banho, principalmente com crianças. Estamos com um número grande de atendimentos de queimaduras por águas-vivas do tipo Caravela Portuguesa", alertou a profissional.

Alta da maré

Mais de 15 barracas foram atingidas e parcialmente destruídas nas praias de Maramar e Macapá, em Luís Correia, no litoral do Piauí, após subida da maré com a ressaca do mar, que começou na última terça-feira (17). A previsão é que a situação se estenda pelo menos até domingo (22), e pode causar mais prejuízos.

Ao g1, a proprietária Clécia Oliveira afirmou que perdeu três vãos de sua barraca e ficou apenas com a parte da rampa de acesso para pessoas com deficiência. Nem mesmo as manilhas de concreto colocadas no local contiveram a maré. Segundo ela, vizinhos lidaram com perdas ainda maiores.

“A maré chegou até a cozinha da barraca de um vizinho nosso. A destruição foi feia. Eu perdi cerca de 70% da minha barraca, que tem uma extensão de 50 metros, de um lado a outro, em frente à praia”, contou Clécia.

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A dona da barraca apontou que, embora haja ressacas marítimas todos os anos, a que aconteceu nesta semana foi mais intensa que as outras. As ondas chegaram a ultrapassar o calçamento da praia.

Ação humana agrava prejuízos, diz bióloga

A situação dos proprietários está sendo acompanhada pela prefeitura de Luís Correia e a Comissão Ilha Ativa, que atua no litoral piauiense. Conforme a bióloga Liliana Souza, membro do grupo, o avanço da maré sofre influência da lua, mas também é consequência da intervenção humana na natureza.

“A erosão marinha, que causa esse intenso avanço, ocorre em virtude da retirada da vegetação costeira e a ocupação irregular. A praia está na foz de um estuário, e isso aumenta a ação da natureza”, explicou a bióloga.

Na visão de Liliana, a especulação imobiliária, além do fenômeno natural da ressaca, obriga a população a recuar as construções no litoral. Para ela, um projeto de contenção da erosão marinha deve ser elaborado pelo poder público para reduzir os estragos.