/75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_TOPO |
‘Síndrome do retorno’ afeta migrantes na volta à terra natal
Após dois anos e meio na Califórnia, a carioca Silvia Moreno, então com 19 anos, retornou ao Rio de Janeiro para concluir a universidade. Mas não imaginava que o sonho da volta para casa viraria quase um pesadelo.
A cabeça estava nos Estados Unidos. Tudo era estranho. Sobravam brigas com o namorado, que a acusava de falar somente sobre a experiência americana. Demorou para ela compreender que o estresse de se readaptar pode ser tão grande quanto as dificuldades de emigrar. Silvia não sabia, mas sofria de algo conhecido como a "síndrome do retorno", que acomete aqueles que voltam à terra natal após temporadas no exterior.
“Assim que cheguei, foi ótimo, estava com saudades dos amigos, da família, da comida. Mas logo passou. Eu não achava graça em nada no Brasil. O primeiro ano foi traumático. Não conseguia voltar ao meu círculo de amigos. Pensava em San Diego o dia todo. Foi muito duro. Sempre digo que, se não tivesse aquela experiência, talvez hoje eu fosse mais feliz, estaria mais resignada com o fato de viver aqui”, conta a arquiteta, hoje com 37 anos.
Embora não haja estatísticas oficiais, sintomas como alienação, tédio e isolamento afetam muitos dos que retornam após anos imersos em outras línguas e culturas. E não apenas brasileiros. Em qualquer lugar, a chegada à terra natal pode levar à sensação de perda de identidade e à depressão. Quem volta se dá conta de que mudou para se adequar ao novo país. E, além disso, muitos acham que essas mudanças são percebidas “em casa” como algo esnobe: quem ficou não entende que o recém-chegado agregou outros registros culturais à personalidade.
Retorno em forma de "U"
Especialista em psicologia intercultural, Andrea Sabben destaca que, para cada ano fora, os migrantes demoram ao menos seis meses para se readaptar. O regresso tem o formato da letra U: primeiro vem a euforia da chegada, depois, uma curva descendente de insatisfação até, finalmente, uma linha ascendente. O paradoxo da migração é ampliar horizontes e, ao mesmo tempo, atrofiar raízes, diz.
"Quando você fica muito tempo fora, perde a espontaneidade, a cumplicidade com seu país. Começa a estranhar e questionar, pois teve vínculos sociais, espaciais e temporais mudados no país de destino e rompidos no local de origem, sendo necessário reconstruí-los. Essa ferida do retorno é uma dor real, mas não uma doença mental ou transtorno psicológico. É um desajuste situacional multifuncional, pois depende de várias circunstâncias. Espera-se que a pessoa passe por um período de luto e volte", explica a psicóloga.
A sensação de estar perdida entre dois mundos é diária para a designer Ana Fucs. Aos 36 anos, ela passa pela “síndrome do retorno” pela segunda vez. Já morou na França por quase três anos, voltou ao Brasil e, no ano passado, deixou o emprego para uma temporada de especialização nos Estados Unidos. Há três meses de volta ao Rio, ela não supera as crises de irritação.
“Depois de viver fora, é desgastante ver como as coisas não acontecem aqui. Tudo é burocrático, as pessoas não têm noções de espaço e cidadania. Por que nós, brasileiros, não sabemos sequer nos colocar do lado direito da escada rolante para facilitar a vida dos outros? Aqui falta consciência de que as ações de cada um têm impacto coletivo”, queixa-se.
Cada vez mais comum no mundo globalizado, o fenômeno foi identificado pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial, quando neurologistas perceberam que os deslocamentos tiveram impacto psicológico sobre militares e civis na Europa. No Brasil, os estudos ganharam força através do neuropsiquiatra Décio Nakagawa, que nos anos 1980 pesquisou a frustração dos decasséguis que retornavam após longas temporadas de trabalho em fábricas no Japão.
"Quem sai sabe que tudo será diferente, mas não imagina que, na volta, vai se sentir diferente em casa. É inesperado, um choque cultural reverso. É difícil dizer quantas pessoas são afetadas e em que medida", afirma o professor de Psicologia Ademir Pacelli, da Universidade do Estado do Rio (Uerj).
Não há fórmula mágica contra o estranhamento. Mas, pode-se manter a calma e buscar ajuda. O Itamaraty mantém na internet o "Portal do Retorno" com informações práticas sobre abertura de pequenos negócios, previdência social e documentação. Estima-se que cerca de 3,1 milhões de brasileiros vivam no exterior – a maioria, 1,3 milhão, na América do Norte.
Mas, se no rastro da crise econômica global de 2008 a tendência era de regresso – o Itamaraty calcula que ao menos 500 mil brasileiros retornaram entre 2008 e 2012 –, hoje o movimento parece inverso. Não faltam candidatos a experiências além-mar neste ano de economia em marcha lenta no Brasil.
“Tenho pensado em voltar para a Europa. Demorei para me acostumar após seis anos na Espanha. Estou no Rio há quatro e até hoje deixo escapar gírias em espanhol. É mais forte que eu. Se estou lá, sinto falta do Brasil. E se estou aqui, sinto falta da Espanha. Tenho medo ficar como um ioiô, indo e vindo, mas tenho mais medo de não arriscar e passar o resto da vida insatisfeita”, afirma a advogada Mariana Castro, de 29 anos.
A cabeça estava nos Estados Unidos. Tudo era estranho. Sobravam brigas com o namorado, que a acusava de falar somente sobre a experiência americana. Demorou para ela compreender que o estresse de se readaptar pode ser tão grande quanto as dificuldades de emigrar. Silvia não sabia, mas sofria de algo conhecido como a "síndrome do retorno", que acomete aqueles que voltam à terra natal após temporadas no exterior.
“Assim que cheguei, foi ótimo, estava com saudades dos amigos, da família, da comida. Mas logo passou. Eu não achava graça em nada no Brasil. O primeiro ano foi traumático. Não conseguia voltar ao meu círculo de amigos. Pensava em San Diego o dia todo. Foi muito duro. Sempre digo que, se não tivesse aquela experiência, talvez hoje eu fosse mais feliz, estaria mais resignada com o fato de viver aqui”, conta a arquiteta, hoje com 37 anos.
Embora não haja estatísticas oficiais, sintomas como alienação, tédio e isolamento afetam muitos dos que retornam após anos imersos em outras línguas e culturas. E não apenas brasileiros. Em qualquer lugar, a chegada à terra natal pode levar à sensação de perda de identidade e à depressão. Quem volta se dá conta de que mudou para se adequar ao novo país. E, além disso, muitos acham que essas mudanças são percebidas “em casa” como algo esnobe: quem ficou não entende que o recém-chegado agregou outros registros culturais à personalidade.
Retorno em forma de "U"
pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_02
"Quando você fica muito tempo fora, perde a espontaneidade, a cumplicidade com seu país. Começa a estranhar e questionar, pois teve vínculos sociais, espaciais e temporais mudados no país de destino e rompidos no local de origem, sendo necessário reconstruí-los. Essa ferida do retorno é uma dor real, mas não uma doença mental ou transtorno psicológico. É um desajuste situacional multifuncional, pois depende de várias circunstâncias. Espera-se que a pessoa passe por um período de luto e volte", explica a psicóloga.
A sensação de estar perdida entre dois mundos é diária para a designer Ana Fucs. Aos 36 anos, ela passa pela “síndrome do retorno” pela segunda vez. Já morou na França por quase três anos, voltou ao Brasil e, no ano passado, deixou o emprego para uma temporada de especialização nos Estados Unidos. Há três meses de volta ao Rio, ela não supera as crises de irritação.
pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_03
Cada vez mais comum no mundo globalizado, o fenômeno foi identificado pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial, quando neurologistas perceberam que os deslocamentos tiveram impacto psicológico sobre militares e civis na Europa. No Brasil, os estudos ganharam força através do neuropsiquiatra Décio Nakagawa, que nos anos 1980 pesquisou a frustração dos decasséguis que retornavam após longas temporadas de trabalho em fábricas no Japão.
"Quem sai sabe que tudo será diferente, mas não imagina que, na volta, vai se sentir diferente em casa. É inesperado, um choque cultural reverso. É difícil dizer quantas pessoas são afetadas e em que medida", afirma o professor de Psicologia Ademir Pacelli, da Universidade do Estado do Rio (Uerj).
pp_amp_intext | /75894840/JA_E_NOTICIA_AMP_04
Mas, se no rastro da crise econômica global de 2008 a tendência era de regresso – o Itamaraty calcula que ao menos 500 mil brasileiros retornaram entre 2008 e 2012 –, hoje o movimento parece inverso. Não faltam candidatos a experiências além-mar neste ano de economia em marcha lenta no Brasil.
“Tenho pensado em voltar para a Europa. Demorei para me acostumar após seis anos na Espanha. Estou no Rio há quatro e até hoje deixo escapar gírias em espanhol. É mais forte que eu. Se estou lá, sinto falta do Brasil. E se estou aqui, sinto falta da Espanha. Tenho medo ficar como um ioiô, indo e vindo, mas tenho mais medo de não arriscar e passar o resto da vida insatisfeita”, afirma a advogada Mariana Castro, de 29 anos.
Últimas Notícias
Arapiraca
Falsos passageiros pedem corrida em Arapiraca, amarram motorista de aplicativo e roubam carro
Cidades
Ideral e Ceasa se mobilizam para ajudar vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul
Cidades
Mulher furta vibrador de R$ 965 em sexy shop de Maceió
Esporte
Botafogo vence Universitario e garante classificação na Libertadores
Cidades
Cuscuz de Arroz de Penedo será Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial de Alagoas
Vídeos mais vistos
TV JÁ É
Festa termina com jovem morta e dois feridos no Agreste alagoano
Geral
Morte em churrascaria de Arapiraca
TV JÁ É
Homem que conduzia motocicleta pela contramão morre ao ter veículo atingido por carro, em Arapiraca
TV JÁ É
Peregrinação ao Morro Santo da Massaranduba
TV JÁ É